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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

II DIÁRIO do REGRESSO


20.08.2010 - Como disse antes, a entrada e saída de Dakar está bastante mais simples. Aliás, após a nova circunvalação a Dakar há já um troço de Auto-estrada até Pikine (feito pela MSF). A nossa direcção é o Lago Rosa. Há sempre alguém que não foi e que se esgadanha se não for.
Chegados ao Lake Rose contornamo-lo pela esquerda, passamos as salinas e fomos para as praias da parte sudoeste – Les Chevaux du Lac onde quem quiser dar um passeio a cavalo nas praias pode alugar um. As praias deste lado são magníficas com o seu palmeiral e uma imensidão de areal para “dar calor”. Não tardou estávamos na praia e os mais calorentos logo se fizeram ao oceano. Como sempre, vindos do nada, lá estão os vendedores de artesanato. São preciosos em caso de atascansos. Mais uma vez, momentos bem passados nos areais sobranceiros ao mítico Lake Rose.



Avançamos para St. Louis onde tínhamos planeado pernoitar mas como a estrada “rendeu” decidimos avançar para Nouakchott pelo que, à entrada de St. Louis viramos logo para a fronteira de Diama (aberta das 08-22h mas há que confirmar sempre porque em África o que hoje é verdade…). Chegados fomos à Alfandega e lá estavam os “fardas” nosso amigos da ida. Entregamos os passavants e dirigimo-nos à policia. Aguardem um pouco… entretanto chega um sujeito que começa a falar em árabe com o “fardas” e este dirige-se a nós dizendo: “ Não podem avançar. A pista de Diama está inundada por causa das chuvas”. Bom…. Mas… nem mas nem meio mas… Lá fomos recuperar os passavants e voltamos a St. Louis para o Hotel La Poste (parecia o filme do ano passado em que tivemos que voltar para trás por falta de visto e era o feriado da independência). Como não havia certeza de que a pista estaria transitável no dia seguinte e porque tudo queria “testar” o famoso inferno da fronteira de Rosso planeamos ir por lá. Quando nos dirigíamos a St. Louis recebemos um SMS do Tomás que tinha subido pela Rota da Esperança: por causa do Ramadão a fronteira do lado de Marrocos fecha às 15h (habitualmente aberta até às 18h). Ninguém queria acreditar. Isso significava que nunca conseguiríamos passar a fronteira da Mauritânia com Marrocos no dia seguinte. Agora sim foi dramática a cena Diama inundada. Um dia ao ar.
Chegamos ao La Poste que fechava no dia seguinte para obras…



21.08.2010 - Despertamos às 6,00h e quando nos dirigíamos para o pequeno-almoço já soávamos. É muita humidade. Nem a noite refresca. Decidimos ir pela fronteira de Rosso – ferry para atravessar o Rio Senegal – dada a incerteza de Diama. Como choveu no início da noite podia continuar inundada. São 100 kms para a fronteira e queremos estar lá na primeira hora, ou seja, às 8,00h. Há quatro “ferries” por dia. Dois de manhã e outro à tarde. Alguém fica do lado de cá. Chegados logo concluímos que o stress de Rosso não é só fama. A quantidade de meliantes a melgar os estrangeiros é superior aos insectos autóctones. Envolvem-nos dando ar de “despachantes oficiais”. Na verdade andam ali “pendurados” nos incautos informando (ou desinformando) os incautos. Se consegues escapar de um logo outro aparece e, afinal, pertencem todos ao mesmo. O primeiro guichet de alfândega a que nos dirigimos ficou logo com o passavant dos carros sem registar no passaporte a saída, o que muito nos intrigou. Responderam que tal seria efectuado no posto de alfândega da fronteira (este primeiro guichet fica a uns 500 metros do restante complexo fronteiriço. Siga para a Polícia Nacional para carimbar a saída no passaporte, isto já em “parque fechado” – abre-se um portão metálico e entramos para a zona do porto fronteiriço onde tudo se processa. São CFA 1000 pelo estacionamento para a comunidade de Rosso. A partir daqui um dos “meliantes” nunca mais nos largou. Nomeou-se voluntário para nos “desalfandegar”. Como já sabemos “o que a casa gasta” logo lhe dissemos que os seus “fees” seriam CFA 1.000 por carro e que afastasse os restantes “colaboradores” que nos infernizavam, ao que ele acedeu e conseguiu afastar ligeiramente os “assessores”. Leva-nos à Polícia de Fronteira e diz que se tem que pagar CFA 3.000 por carro. Puxa de dinheiro dele e entrega ao “fardas” que está do outro lado do guichet. Então e o recibo? Não há recibo. Ninguém passa recibo. É evidente o compadrio entre fardados e não fardados. Siga para a Alfandega. Cada carro mais CFA 5.000. Andavam por lá uns selos que ora entregavam ora se esqueciam. Faz muito calor. Está muito calor. Who cares?
Faltaram-nos moeda e só tínhamos notas grandes de euro. Diziam-nos também que do outro lado precisávamos de “ogivas” (ouguyas) para pagar o ferry e demarches mauritanas. O meliante staff também tem cambista. No problem. Melhor, a taxa de câmbio aceite foi a proposta por nós, ou seja, a que habitualmente usávamos. Para entrar no ferry? Para entrar no ferry há que dar uma gorja ao “porteiro”. Mas fomos os primeiros a chegar. Pois fostes. Mas vêem aqueles ali? Passaram cá a noite. Não há hipótese. Quatro ferries por dia que levam uns dez carros cada um… o próximo é só às 11,00h. Às 11 lá teremos que pagar também… não queremos ficar do lado de cá. Já bastou ontem. O nosso “despachante” lá foi tratar da nossa vida. Lá lhe demos uma nota de € 5 e outra de 2000 “ogivas” para o “porteiro”, ou seja, para a comunidade. Pelo menos entramos logo no ferry. Vá lá. É tamanha a confusão que não dá para perceber quais, de todos os carros e furgões que se encontram aparcados, aguardam para entrar no ferry ou estão simplesmente estacionados. Finalmente pagamos 1000 “ogivas” ao nosso “despachante” que, no fundo, até foi eficiente. Somados os valores Diama não ficaria mais barata. Havia, contudo, o lado mauritano de Rosso. O ferry arranca. Bye, bye Senegal, até à próxima. Próxima batalha: o Rosso mauritano. Um dos meliantes fez questão de nos acompanhar na travessia. Começo a ficar saturado de os aturar. Passei a pasta ao Fredy. A Mauritânia é tua.
Do outro lado paga-se o ferry: 5.000 “ogivas”. Comuna de Rosso mauritano: 2.000. Carimbo nos passaportes: 3.500. Fotocópias (vá lá saber-se para quê): 500. Alfandega 4.000. Pouca vergonha. Taxa do “meliante desalfandegador” 1.000.
Chegamos a Rosso/Senegal às 8h. São 10.30h e estamos a franquear a saída dos portões fronteiriços de Rosso/Mauritânia. Nada mau para África com rio e tudo.
Hoje é a monotonia do deserto intercaladas por paisagens com magníficas dunas ora douradas, ora avermelhadas ora mais rosadas. As dunas convidam a sair do “goudron” para desfrutar das suas formas, subidas e descidas… A planura está “semeada” de pequenos povoados de haimas e barracas em madeira muito rudimentares: de quem não está ali para ficar. Até Nouadhibou, onde vamos pernoitar, é deserto e deserto e mais deserto. Sonolento, calorento, convêm não deixar cair a pestana.
Às 13h estamos a entrar em Nouakchot. O trânsito é caótico (redundância em cidades africanas). O sinaleiro dá em doido e parece um presunto fumado tal é a poluição. Não sabe como resolver tamanho novelo.
Vamos ficar a Nouadhibou porque os Srs. Marroquinos da fronteira, decidiram fechar a dita às 15h durante o Ramadão. Ponto.



A seca é que Nouadhibou, tal como Dakhla, fica na ponta de uma península, desta com quarenta quilómetros. É um ir e voltar. Tão só a única cidade (e povoação) próxima da fronteira. Ok, também se fica a conhecer. A incerteza das fronteiras africanas onde há sempre novidades, convida a chegar à primeira hora. Melhor não se pode fazer.
Mais ao menos a meio do percurso (Km 245) há uma “estação de serviço” com bar e restaurante. O Patrol está a dar-se mal com o alto nível do gasóleo. Ontem e hoje queixa-se de água no combustível. Engasga aos 80kms/h. Purga-se o filtro do gasóleo e logo marcha. Chegamos a Nouadhibou ao final do dia, demos uma volta à cidadela e encostamos no Hotel Al Jazeera com bom aspecto exterior, um enorme parque de estacionamento já dentro de muros e também com uns “bungalows”. Fizemos um jantar expresso e toca a dormir. Começava a sentir-se o peso dos quilómetros e, no dia seguinte, muito mais deserto havia para percorrer: o alargado reino de Marrocos com o Sahara Ocidental e, claro, mais uma aventura fronteiriça. Durante a noite alguém foi à grade do tejadilho do Patrol e roubou um saco com vários géneros. Como o hotel vinha referenciado no Lonely Planet o Miguel decidiu participar a ocorrência aquela editora já que os responsáveis do hotel fizeram ouvidos moucos.



22.08.2010 Deixamos Nouadhibou às 8.30h. Tínhamos 45 kms à fronteira e queríamos “abri-la”. Percorremos mais uma vez a península com magníficas paisagens de escarpa e mar. O que vale é que a cada fronteira vamos ficando mais razoáveis com as delongas, duplicação de procedimentos, filas, esquecimentos, encerrou porque sim, o responsável saiu e já volta ou ainda não chegou, … venha a próxima.Do lado mauritano dispensaram-nos da revista. Menos mal. Correu tudo rapidinho. Adeus Mauritânia. Até um dia. Atravessamos o hiato fronteiriço e segue-se a entrada em Marrocos. Há novidades: colocaram um scanner de veículos na fronteira. Antes disso: polícia, mais polícia, mais alfandega. Como havia uma hora que o Fred tinha deixado o guichet do scanner e não aparecia, fui ver o que se passava. Dou com ele sentado numa cadeira, em frente a uma mesa que servia de secretária com um “fardas” a despachar. Então? O “fardas” que estava a despachar não era o que lhe tinha calhado em rifa. Esse, coitado, era diabético e tinha ido tomar insulina. Não digas que o Ramadão lhe deu para a fraqueza e teve que aumentar a dose. Estes, por certo, têm dispensa de jejum ou passam mal. Entretanto, aguardamos também a vez do scanner. Só que os camiões que vem em sentido contrário ao nosso, colaram de tal forma que, deste lado, ninguém entra. São horas de fastio. Nada anda. Começa a bronca. Era já final da manhã quando o nosso lado começou a aviar. Com estas e com outras se passa uma manhã. Haja calma e descontracção. Nunca pior. Ali ao lado, uns desgraçados numa Ford Transit com matrícula marroquina desesperavam muito mais. Para além de uma boa meia dúzia de pessoas, o possante veículo pouco ar tinha no seu interior. No tejadilho, outro volume igual ao de baixo. Ou seja, duas em uma. No “andar de cima”, entre muitas outras coisas, viajavam duas scooters. O resto, eram fardos e mais fardos, embrulhos e mais embrulhos. Aparece o primeiro “fardas”. Siga para o scanner. Passado scanner ordens para revistar. Toca a descarregar. Tudo cá para fora e tudo cá para baixo. Saia a bagagem do interior e do tejadilho do furgão. Deixaram as scooters. Não senhor, scooters também cá para baixo. O estendal ficou ali no chão uma hora garantida. Vem outro “fardas” que decidiu deixar a cadeira e a sombra. A vontade é nenhuma. Dá uma vista de olhas, apalpa uns fardos, esvazia outros, podem voltar a carregar. Começaram as manobras de acomodação da carga que começou por fazer subir novamente as scooters. Chega o primeiro “fardas”. Quem vos mandou carregar? Ai, ia, ai, ai. Toca a descarregar tudo novamente. Metia dó. Vá lá que o calor não era exagerado pese embora a uma da tarde. Nova revista. O “fardas” saca do canivete, corta as amarras e começa a “aliviar” o primeiro fardo. Só saem panos. Deixa ficar tudo no chão e dirige-se a outro carro para revista. Tarefa concluída, volta à Transit. Passado um bocado novo interregno. Regressa e conclui a revista. É a vez do “fardas” de quatro patas. Chega o cão farejador e começa a sua labuta. Trabalho finalizado regressa à casota. A tralha permanece toda pelo chão.Enquanto se aguarda, carga, viaturas e pessoas ficam impregnadas da areia finíssima que anda no ar empurrada ora por vento constante ora por fortes rajadas. O nosso vizinho de fila começa a desesperar e não larga a buzina. Bem que valeram as buzinadelas. O nosso lado começa a ganhar vez. O Patrol entra no scanner. Acabada a operação recebe guia de marcha para revista manual. Desesperante. Quando vierem para estas bandas venham com tempo e pachorra. Não vale a pena apressar. Pelo contrário, pode piorar.Chegamos à fronteira marroquina, eram 10h15m. Estamos a sair. São 14h30m. Os da Transit ainda por cá ficam. Conduzimos até ao Bojador e ficamos no hotel onde tínhamos dormido à vinda.



23.08.2010 Acordamos com a ideia de "fazer" o máximo de quilómetros possível e hoje não há fronteiras para atrasar o andamento. Saimos pelas 06h e às 09h15m passamos Tah, localidade "fronteira" do território sarauí com o território marroquino. Tinhamos percorrido 250kms. Pelas 12h chegavamos a TanTan com 500 kms rodados.
Como saimos muito cedo não tomamos pequeno almoço e a fome começa a apertar. Queremos comer qualquer coisa mas não há nada aberto. É o mês do Ramadão. As portas dos bares e restaurantes estão todas "em jejum". Sendo a ideia andar o mais possível colocamos de parte "desmontar a nossa cozinha". Lá seguimos com um bolo, uma banana e umas bolachas...
À entrada do Anti-Atlas, logo após Bouizarkane, fomos "carimbados" pela polícia. É a segunda vez. A primeira foi à saida de TanTan,
Em estrada de montanhas temos que abrandar a marcha. Vimos sem calços de travões traseiros desde Dakar. Ainda bem que a ligação por auto estrada ente Agadir e Marraquexe já está aberta, Temos auto estrada até Ceuta.
 
24.08.2010 Exaustos, paramos no parque de uma área de serviço à 01h para dormir um pouco. Tinhamos andado 1.500kms. O Miguel como não conseguia dormir no carro seguiu para Ceuta, com o Diogo. Eu e o Frederico já tinhamos a tenda de tejadilho aberta decidimos ficar a descansar. Pelas 04h30 um barulho de martelar incessante. Mesmo ao nosso lado um camião rodeado por meia dúzia de "mecãnicos" parecia mudar um pneu. A verdade é que os movimentos e o ruido que faziam era mais de desmantelarem o veículo do que mudar um mísero pneu. Martelavam como condenados mas palravam como feirantes. Não nos acordaram só a nós mas a todo o parque. Não havia condições para dormir. Com o cansaço que levavamos e quando ainda passavamos pelas brazas, levar com aquele ruido insurdecedor de uma marreta a malhar em metal mesmo ao nosso lado foi extenuante. Acordamos quais zombies com vontade de lhes ferrar... mas eram muitos e evidenciavam estar a fazer a coisa mais normal do mundo. Afinal ali não era propriamente um local para pernoitar. Era o parque para automóveis da área de serviço.
Meios rodilhas verificamos que tinhamos uma sms do Diogo - estavam em Ceuta e tinham passagens para o ferry das 07h.
Levantamos arraial e rumamos a Ceuta com o objetivo de conseguirmos apanhar o mesmo ferry que eles, o que conseguimos à justa.
Uma hora depois pisavamos Algeciras. Estavamos em solo europeu.
Pequeno almoço e reforçado à saida de Algeceiras e daí o trajeto do costume.
O Diogo voltou para o Toyota pois o Miguel despedia-se e seguia para Lisboa. Até já grande Miguel. Foi um prazer conhecer-te e fazer contigo este raid.
Uns quilómetros à frente, logo após Portalegre, foi a vez de deixar o Diogo na Herdade da Almojanda de onde uns dias antes o tinhamos recolhido.
Fiquei eu e o Frederico que seguimos para Ourém onde deixei o meu carro.
Mais um inté ao Frederico, pegar no carro e sigo até à Povoa de Varzim.
Chegado à Povoa de Varzim findou o Raid ao Burkina Faso 2010.
Uma nota: na estrada que liga Ourém à A1 desejei voltar ao transito de África.
  

terça-feira, 7 de setembro de 2010

I DIÁRIO do REGRESSO


16.08.2010 - A vontade de seguir para sul é tanta que fizemos 10 kms da estrada que nos levaria a Abidjan. Voltamos para trás para noroeste. O nosso próximo destino é Dakar. Vamos por Bamako, via Sikasso, pela fronteira de Koloko (Burkina) e Heremakono (Mali). Cruzamos uma paisagem com árvores que têm uma flor igual ao nosso maio. Nas fronteiras o habitual – comissaria, policia nacional e alfandega. Habitual jogo de cintura “fardas” e “turista”. O fardas depois de dar a volta ao material de segurança obrigatório da viatura e não ter por onde pegar começou a implicar com a fotografia da carta de condução do Miguel que estava desbotada por humidade – insistia que não conseguia confirmar a cara com a careta. Na aduana do Mali o habitual ballet do passavant. O Miguel vai buscar o passavant que devia ter entregue à saída, em Koro. Começa o teatro. O Miguel começa a suar com ar de assustado. Afinal tinha cometido uma infracção. O carro ia entrar no Mali sem ter saído. Valeu um fardas fixe e outro que era fan do Luis Figo. Com 2 x CFA 5000 lá sacamos os passavant em ambiente de camaradagem. Logo à frente uma portagem regional. Vá lá: as “Scuts” do Mali até são fixes.
As Toyota Hiace estão “licenciadas” para vinte passageiros…
Chegamos a Bamako em hora de ponta entramos pela “circunvalação” junto ao rio. Com um quarteirão ou outro a mais lá chegamos ao Hotel Tamana que escolhemos por ser na zona lúdica da cidade e recomendado pelo Lonely Planet. Estávamos animados para ir para a “night”. O Hotel é fixe, étnico, bom preço para uma capital (CFA 25.000 duplo a.p.a), bem localizado, gente simpática, um jardim/bosque com piscina e comida boa e com Wi-fi. Jantamos no hotel. Depois de jantar fomos dar uma volta aos arredores repleto de bares e restaurantes. Era muito cedo. A noite ainda vinha longe e o cansaço era muito. Recolhemos sem ir para a night. O Ibiza Club mesmo ali ao lado mas começava a funcionar muito tarde.



17.08.2010 – Hoje temos muitos quilómetros para andar. Arrancamos à 07.30 pois a ideia é fazer Bamako / Tambacounda. Só que a 40kms de Bamako tivemos que parar. O Toyota está com problemas na roda dianteira direita. A previsão é que os rolamentos “foram ao ar”. Precisávamos de um mecânico e decidimos voltar para trás, para Kati, uma povoação que tínhamos passado havia uns 15kms. Lá encontramos o “mecanaux” que logo disponibilizou um dos seus colaboradores e um ajudante para se debruçar sobre o Toy. Tira a roda, desmonta o cubo e lá estavam os rolamentos desfeitos e “fundidos” no eixo. A manhã ia caminhando para o meio-dia e quando abria o sol começava o calor. O mecânico esteve a dar “coça” de cinzel e martelo no que restava dos rolamentos debaixo de uma temperatura considerável durante umas duas horas – suava como uma caleira furada. Não havia meio. Propôs-se o uso de um maçarico mas não havia na oficina. Teve que ser “alugado” a outra “freguesia” mas lá apareceu. Depois de lhe dar com o maçarico toca a aplicar mais uma hora de cinzel e martelo. Estava a ver quando era o eixo que cedia. Finalmente lá começaram a sair as esferas e o aço do rolamento em bocados.





Mesmo ao nosso lado estava uma barraca que vendia peças para ciclomotores – as famosas KTM chinesas – que fazia um negócio dos diabos. Cederam um banco ao pessoal e o toldo abrigava-nos do sol. Depois de tudo bem limpo e lixado havia que ir a Bamako buscar rolamentos novos. A casa das peças parecia do outro século mas tinha material novo e usado para duas gerações. Material Toyota então não faltava. Aguardamos uma meia hora e lá apareceram as peças que necessitávamos. Ainda o sujeito não tinha acabado de dizer o preço já o “nosso” mecânico estava a reclamar dele. Parecia que estava a comprar as peças para ele. Vestiu a nossa camisola ou estava a ver se gastávamos o mínimo nas peças para nos poder carregar melhor na mão-de-obra. Volta para Kati com o material, coloca-lo no devido sítio, verificar e lubrificar os rolamentos da outra roda, discutir o preço e às 17h estávamos a arrancar com aquela sensação de que “o carro não está la muito bem”. Pagamos cerca de € 100, peças e mão-de-obra, e o carro ficou perfeito. Era só impressão. A ideia agora é fazer uns 300kms, chegar a Diema e pernoitar (vá lá saber-se onde). Nem de propósito, levanta-se uma tempestade tropical da época que nos haveria de acompanhar até ao dia seguinte.
Como não encontramos nenhum pardieiro para ficar, à frente de Diema uns quilómetros decidimos acampar logo à beira da estrada debaixo de umas árvores e protegidos por uns arbustos (como trovejava não gostei muito da ideia, mas a trovoada estava longe…). A nossa tenda de tejadilho que já há muito andava com a cobertura rota, tinha o interior molhado – não dava para dormir lá dentro. Restavam duas tendas – a do Diogo, single e a do Miguel, doble. Montar as tendas com aquela chuva e vento foi obra. O chão estava todo enlameado e as tendas ficaram quase suspensas entre vegetação e irregularidades do terreno. Parecia que iam vestir as tendas. Mal por mal, optei por dormir dentro do carro. Não foi muito cómodo mas foi uma noite espectacular de dorme e acorda onde assisti de bancada a uma tempestade tropical durante toda a noite e o nascer do dia. A paisagem era tremenda. Foi ao mesmo tempo hilariante e dantesco. A temperatura estava óptima. Ainda que adversa nestes momentos, sente-se prazer nesta convivência com a natureza. Foi mais um dia, desta, acrescido de mais adversidades que tivemos que ultrapassar.



18.08.2010 - De manhã estava um pouco “quebrado” mas logo passou. Lavamos os olhos, os dentes, enganamos os estômagos e seguimos viagem. África na época das chuvas é indescritível – é divina. As cores, os cheiros, as tormentas, as cubatas, os animais, a vegetação, as árvores, as nuvens, a temperatura óptima…
Hoje temos mais um grande desafio - entrar no Senegal e conseguir o famigerado “passavant”. Estávamos a 350Kms da fronteira do Mali (Diboli) com o Senegal (Kidira). Já conhecíamos a estrada e sabíamos que havia que ultrapassar os péssimos 80 kms de estrada entre Sandaré e Segala (onde o Peugeot quebrou o cárter) mas o pior mesmo era a expectativa da fronteira e seus “fardas”. À nossa frente um camião deixa cair um pneu da caixa de carga. Vá que não nos acertou. Atravessamos o Rio Senegal – estamos em Kayes – e 100Kms mais à frente estamos a sair do Mali depois das habituais demarches que à saída normalmente são mais agilizadas. Espera-nos a pertinente aduana senegalesa. Aliás, após os procedimentos das polícias senegalesas, estamos em território do Senegal livres para seguirmos para onde quisermos – claro que não vamos seguir sem o passavant das viaturas. Na ida tinha perguntado a uns “fardas” da aduana se não havia problemas de entrarmos com os carros no regresso ao que disseram não haver qualquer impedimento. Agora, na volta, estou a ver que, afinal, não era aquela a aduana e, por certo, não eram os mesmos guardas. A aduana ficava uns metros depois da polícia nacional. Vamos à luta…
Esqueci-me de referir que, numa de charme, vesti uma t-shirt com uns bacanos a dançar e com grande dizer - “SENEGAL”. A “comissão de boas vindas”, ou seja, um fardas no alpendre refastelado numa cadeira, entrou logo a matar: têm o CPD (Carnet de Passage an Duane). Bom, a coisa está complicada. Era andar para trás 400Kms, era fazer a Rota da Esperança com 50°, era não ir a Dakar… encaminhou-nos para o outro fardas que estava com uma “visita” – um muçulmano trajado com rigor étnico. Não temos CPD, queríamos conhecer a vossa bela capital, em Diama já nos deram um passavant para atravessarmos o V. pais rumo ao Mali (sabia lá ele a que preço…), adorávamos passar três dias no V. magnífico pais, blá, blá… a “visita” com um ar muito monástico sai para o exterior, o fardas 2 fala com o fardas 1 e faz-se luz – vão dar-nos um passavant para dois dias. Explicamos-lhes que para ir por Dakar precisávamos de três dias, pronto seja – um passavant de 72 horas, ou seja, até ao dia 21. Tempo suficiente para visitar Dakar e arredores e ainda passar mais uma noite em St. Louis. Há grandes fardas. Quando chegamos cá fora para nos despedirmos de tudo o que eram fardas, com o nosso sorriso orelha a orelha, estava a “visita” a benzê-los em plano islâmico. Afinal a “visita” era uma entidade religiosa. Tinha muita paz e serenidade no semblante. De certeza que foi ele que nos ajudou. Fiquei embasbacado. Não sabia como o cumprimentar. Não podia cumprimenta-lo como aos fardas. Pois seja, cumprimento de mão com meia vénia e ala não vão arrepender-se – é sempre esta a sensação com os fardas africanos quer sejam de fronteira, de embaixada, de trânsito. Mas não restam dúvidas: em Kidira é tudo muito mais simples que em Diema ou Rosso onde tudo envolve o papel do BE.



Vamos lá até à “Petit Côte & Siné – Saloum Delta” que dista uns 70Kms a sul de Dakar. Destino: Sali Portudal, uma praia turística tipo AfricanMed. Mas ainda faltam muito piso, ou seja, 900Kms. Embora tenhamos sido informados que a estrada de Tambacounda a Dakar já está um tapete há sempre que desconfiar das news por estas bandas.
Começamos a fazer quilómetros rodeados da densa vegetação da época. A estrada é óptima. Pouco trânsito. Asfalto sem buracos. Chegamos a Tambacounda e paramos logo à saída da cidade para trincar algo numa via de acesso a um estaleiro industrial vedado por rede e com uma porta também em rede e tubo. Não tinham passado cinco minutos quando reparamos que estava um sujeito eufórico a esbracejar do outro lado da rede a chamar-nos dando a ideia que não podia abrir a porta. Nós também respondemos com gestos a cumprimentar quando ele dá a volta à porta e passa por uma estreita passagem onde faltava rede e vêm na nossa direcção: “ Olá pessoal, são portugueses, não são? Viram ali a bandeira não foi?”. Apresentações, era o Hélder, o encarregado da empresa portuguesa MSF S.A. que tinha feito a estrada Tambacounda – Kaolack (Investimento CEE) e que íamos começar a percorrer. Conversamos um bom bocado: estava ali com a mulher e era actualmente o único português que lá estava. Ia ficar mais uns meses para garantir o bom estado da estrada que dizia estava um brinco, com reflectores, bem pintada e um tapete novinho que só visto. O que tinha ficado por fazer pois não estava na adjudicação eram uns 40 Kms entre Kaolack e Fatick que estavam muito esburacados. Era um homem de África. Já tinha estado em vários países africanos ao serviço da sua empresa, conhecia bem Dakar e arrabaldes, claro. Normalmente, nestas situações, contendem a vontade de partir com a de ficar a conversar e trocar ideias. Tchau, até um dia. Quem sabe um destes dias lês esta página, comunicamos e nos voltamos a ver. Só se for em África já que o Hélder não vê para prevê o seu regresso a Portugal: ganha bem e adora África.
Efectivamente a estrada estava magnífica. Caiu a noite mas os reflectores novos, a espelhar e a tinta, ainda muito branca, iluminavam a estrada que nem lampiões. O Patrol do Miguel que ainda se não tinha queixado de nada começa a dar sinal de água no gasóleo. Pelo caminho, volta e meia, tínhamos que parar para o purgar. Ainda assim, rapidamente chegamos a Kaolack e de seguida embrenhamos - nos na estrada cheia de crateras, buracos e autênticos regos – já íamos avisados mas não para tanto. Aproximamo-nos de Fatick onde existem umas salinas enormes.




É também uma zona pantanosa, de mangue, e nem queríamos acreditar no que víamos: os faróis do carro iluminavam nuvens e nuvens de insectos enormes e isto, seguramente, durante uns 10/15Kms. Foi um espectáculo único. Por certo, ninguém poderia andar nas redondezas senão respirava–os, engolia-os e por certo asfixiava. Os carros que iam à nossa frente pareciam que estavam em ensaios num túnel de vento - só que o vento era pejado de insectos que, pelo tamanho, logo apelidamos de pernilongos – mais tarde vimos eram libelinhas. Os nossos carros ficaram “barrados” de insectos. Era uma gosma só. Insectos em estado líquido e esborrachado. Quando parou o “tornado de insectos” tivemos que parar para deitar água nos vidros pois já não tínhamos líquido nos esguichos e a luz dos outros carros espelhava de tal forma no pára-brisas que não se via a um palmo. Os carros assustavam. Encostar nem pensar: era um nojo só.




Em Mbor viramos para Saly Portudal onde começa a “Côte d’Azur” senegalesa. A nossa pinta a chegar com os carros barrados de gosma de insecto… vá que era noite e época baixa. Bares, restaurantes, hotéis, pubs, discotecas e de tudo um pouco para o turista se divertir. Num aparthotel alugamos uma casa enorme, com piscina, por uma noite por CFA 70.000 APA.
Jantamos num restaurante todo tropicaliente, muito bem servido onde comemos e bebemos bem por bom preço. Amanhã vamos para a capital.




19.08.2010 Hoje vamos para Dakar mas já que estamos nestas bandas visitamos já o Lago Rosa. Passa por nós um UMM com matrícula senegalesa. Entramos na estrada para Thies à procura de mais um tesourinho. Fica perto de uma estação que foi de monitorização da NASA e agora pertence a fins privados – IntelSat. Pedimos para visitar, negativo.





Quanto ao geotesourinho outra nega – só lá estava a lata. Voltamos à estrada para Dakar – o trânsito está parado e nós ainda tão longe. Mudança de itinerário – o Lago Rosa fica para a volta – o trânsito está bloqueado portanto seguimos para Dakar. Passar Rufisque, um drama. Na estrada e nos passeios é um enxame de vendedores e prestadores de serviços – acabam de nos limpar o pára-brisas. Conseguiram remover toda a “pasta de libelinha” que revestia o vidro. Aproveito para passar as crónicas para o PC. Quando chegamos às imediações de Dakar não queria crer no que estava a ver – os acessos a Dakar agora estão magníficos. Auto-pista e viadutos resolveram o caótico acesso à urbe que demorava no mínimo duas horas. Os viadutos que há séculos estavam em construção já estão interligados. Onde anda toda a confusão de pastores, madeireiros, ferreiros, agricultores, chapeiros… Agora entra-se em Dakar em 2 x 4 vias de trânsito. Também foi a MSF que fez (ou terminou…) estes trabalhos. Demorou mas está de primeiro mundo. Quando saímos da via circundante estamos praticamente no centro.



Recomeça o trânsito mas fluido. Depois de deambularmos um pouco lá encontramos o que queríamos – o Instituto Francês sediado num magnífico edifício colonial e o seu delicioso restaurante “Le Bideew” onde pensamos almoçar. Paramos o carro num parque que tinha “carhandwash a balde”. Lá negociamos o preço para lavar o Toyota e o Nissan. Eles não viram nas que se meteram. Escapou-lhes a gosma de libelinha barrada nos carros. Entramos nos passeios e ruas de Dakar. A miséria extrema não escapa à visão. As ruas estão repletas de “famílias” que, bom de ver, vivem mesmo por ali.
Depois de almoço decidimos ir conhecer Cap Vert – a zona costeira a noroeste de Dakar e, quem sabe, ficar num dos hotéis da zona. Quando chegamos ao parque os carros ainda estavam a ser lavados. Lavados é favor. Os “empreiteiros” suavam por quantas tinham. Acho que só de espátula é que a limpeza ficava ok. Deram o trabalho por acabado com aquela cara de quem foi ludibriado. Os carros não estavam sujos. Estavam untados de pasta de libelinha.
Seguimos para Cap Vert sem antes passarmos pelo “Phare des Mamelles” que fica sobranceiro do “Cap Les Almadies” o mais ocidental de África, onde se encontra o Club Med de Dakar.



Atrás o imponente e magnânime monumento ao renascimento do espírito africano.





Fomos ao farol em busca de mais um geotesourinho que desta, pobrezinho (só tinha o “livro de ponto”), mas estava lá. O Miguel, que é um mãos largas, deixou lá um selo dos CTT – também não cabia muito mais no mini depósito.
Encontramos também vários admiradores de filmes 3D.



Passeamo-nos por Cap Vert que é também a zona do aeroporto internacional mas não ficamos clientes. Estava tudo em obras, muito mal amanhado e concluímos que cidade é no centro. Ficamos os quatro num apartamento das águas furtadas do Hotel Ganalé, que fica bastante central, por CFA 71.400 mais CFA 15.000 para os pequenos-almoços. Recomenda-se.
Fomos jantar ao “Le Bideew”, à noite com um ambiente ainda mais europeu. A comida é óptima e o preço, uma agradável surpresa. Depois andamos a digerir o jantar pela noite e bares de Dakar muito calmos aquela hora. Amanhã começamos a subir – é o regresso no verdadeiro sentido da palavra.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

III DIÁRIO



11.08.2010 – Madrugada e manhã de tempestade tropical. Muita chuva, trovoada e vento. Temperatura sempre boa. No “Auberge” de Segou o triplo a.p.a são CFA 39.000. Ao de leve Segou recomenda-se. Apelidava-a de uma cidade rústica e cosmopolita. O Rio Níger é enorme em frente às margens da cidade. Transborda também. O nosso destino de hoje é Djenné, famosa pela sua grande mesquita de barro. Depois de 30kms em asfalto entramos em pista de barro. Serão 230kms de magnífica pista de barro com passagem por vários povoados.





Paisagem bucólica e chuva só um pouco. A terra quente e a vegetação transpiram e o seu suor é de um odor forte, que oprime os brônquios não deixando contudo de ser agradável, relaxante. Próximo de Djenné chama-nos a atenção um povoado distante pela sua enorme e imponente mesquita que se destaca no meio do casario barrento e rasteiro. Pelos binóculos vimo-la melhor. É imperdível. Vamos visita-la.



O ritual introdutório é cumprimentar e conversar um pouco com os anciãos da aldeia que desta descansam e cavaqueiam numa plataforma de madeira à entrada do povoado. Depois, com o seu consentimento ajudado por uns CFA para cola lá entramos no povoado. Ruelas muito estreitas em terra batida, lama e água mas, em tudo o mais, limpa. Brincamos e fotografamos a criançada que estava eufórica.



Chegamos à mesquita no ponto mais elevado. É magnífica mas está “asfixiada” pelo casario pelo que não pode ser devidamente apreciada e fotografada.



Os insectos não nos largam. Voltamos a descer e retomamos a pista para o nosso destino. À entrada da aldeia há um lago onde tudo o que é mulher lava a roupa e a louça e a criançada brinca e chafurda.
Djenné é uma desilusão como urbe. O seu pessoal não fica atrás. Alojamo-nos no “Campement Hotel Hauber” – quarto triplo CFA 25.000 e duplo 20.000; pequeno-almoço CFA 2.000 e jantar CFA 5000. De “campement” tem os telhados dos bungalows que nesta época são inutilizáveis. Pessoal do hotel nada simpático e prestável. Sem net, chovia pelo telhado de palha da recepção, os bungalows tinham AC mas eram paupérrimos. A “foto” estava feia. Não merecia a impressão quanto mais a moldura. Se fosse possível carregava no “delete” - tudo muito fraco. Demos uma volta à vila. Na praça a seguir ao hotel decorria um jogo de futebol entre djennenses com uma bola muito leve e fugidia. Seguimos para a mesquita sempre acompanhados pelos insectos voadores e os pedantes também. Não há forma de nos livrarmos deles. A mesquita está em obras e custa uma fortuna visitar o seu interior que nada tem de interesse. É apenas para franquear.



Queríamos comprar uns chapéus Dogon e o Antonio disse-nos que o melhor local era o mercado que transbordava para a praça da mesquita. A mesquita fica melhor na fotografia. Vá lá – é fotogénica. Lá entramos no recinto do mercado. A enxovia e colorido do costume, em sujo e fedorento. Sempre que podemos “roubamos” umas fotos. As vendedeiras não curtem principalmente porque não compramos nem confraternizamos. É “roubar” mesmo. Conscientes, mas não conformados, sempre vamos fazendo uns click.



O “man” dos chapéus não veio mas o nosso guia involuntário diz que logo ali e coisa e tal não faltam chapéus bons e baratos, claro. Não fizemos negócio para seu descontentamento. Como não fiz grande negócio com o tuareg de Segou decidi que os próximos remediariam o deficit. Aceitaria ser benevolente se houvesse troca por roupa que levava para o efeito. Caso contrário só pechinchas. Mas o que regala as vistas deste pessoal é o material electrónico. Não voltamos para o hotel sem que o nosso guia nos levasse pelas congostas do vilarejo e nos fizesse entrar numa casa e subir até ao telhado onde dizia haver chapéus Dogon para venda. Por um momento pensamos que nos estava a por a jeito mas não. Esta gente é ardilosa, teimosa, melguenta, mas não é delinquente nem violenta. Os magníficos telhados de Djenné...



Depois de muito "bargain" comprei três colares numa banca perto do hotel. Já no recinto do hotel, logo à entrada, existiam umas barracas de artesanato. Tinham peças interessantes inclusive os chapéus. Antes e depois de jantar foi uma azáfama negocial. Ao jantar não tinham bebidas alcoólicas nem permitiam que trouxéssemos as nossas. Ficamos furiosos. Perguntamos se era pelo facto de estarmos no período do Ramadão que começava no dia seguinte – o que até compreenderíamos – dizem que não. A proibição é para sempre. São motivos religiosos. Grandes talibãs. Tirem-me daqui. Ficou famosa a frase – Djenné jamais. Quanto às negociatas fui mais uma vez bastante benevolente nas trocas. Resumindo: permutei com um dos comerciantes do hotel, uma máscara, uma estátua Bambara (a Tyi Wara que é o troféu atribuído ao melhor agricultor do ano) e um chapéu Dogon por € 40 e 4 pólos. Por ele ficávamos a negociar mais material mas eu logo disse que a partir de agora seria só troca directa.



Apareceu o Roman que tinha ficado em Bamako a tratar do visto para a Mauritânia. Claro que na embaixada ficaram curiosos como é que ali estava sem visto. Clandestino pois claro. Grande maluco. Anda por aí sozinho por estradas e pistas. Desta, quando se dirigia a Djenné, para cortar caminho, meteu-se já de noite numa pista. Acontece que, logo à frente a pista estava alagada. Parou no último momento. Mais um pouco passaria a noite atascado no meio do nada e com os pés molhados. Borrou-se todo. Isto é sorte pura e um acto destes é manifestamente reprovável. A aventura pode terminar com um acto irreflectido destes. Para si e para os companheiros de viagem. Como anda num carro a gasolina, produto dificil de encontrar por aqui, desespera para arranjar combustível e fica para trás á procura do dito (anda carregado com bidões de plástico cheios na mala...). Uma bomba relógio este Glacius. O seu móvel não funciona. Uma figura desafogada à solta em solo que pede alguns cuidados.
Depois do jantar voltei aos negócios por insistência de um dos comerciantes. Logo lhe disse que não tinha mais dinheiro. Só troca por roupa. De volta negociei duas estátuas de um casal Soré (do povo Amoré, rima não é?) em bronze e nas quais se encontra a serpente símbolo da abundância e da sorte (a serpente de um modo geral vive onde há abundância de água, vegetação e outros animais que lhe servem de petisco). Acabo de atender este e logo sou chamado pelo primeiro. Desta foi ao baú buscar as preciosidades. Pronto mais umas roupitas e lá trouxe uma máscara Bozo em terracota e duas em ébano para equilibrar o negócio. Bom, se não foi assim foi parecido. Só vou confirmar quando “desmontar” os embrulhos e as malas. Estes comerciantes ganham a vida com o artesanato mas fazem questão que se negoceie o preço, exigem explicar a origem e o significado de cada peça, especialmente as máscaras e as estátuas. Nós é que entramos e saímos a todo o gás pois o raid não permite muito relax. É com pena que não falamos mais um pouco com os locais e aprofundamos as suas lendas, a sua cultura, a sua religião...



12.08.2010 -Madrugada de chuva forte. Manhã encoberta mas sem chuva. Entrar e sair de Djenné pelo lado sul obriga a usar o ferry para uma pequena travessia do Bani, afluente do Níger. Como sempre os vendedores aguardam os viajantes. Lá fiz mais um negociozito – uma estátua esguia em bronze de uma agricultora. As estátuas esguias africanas de madeira ou bronze são magníficas. Hoje terminamos a nossa etapa em Sangha, um dos muitos povoados do Reino Dogon. Estes povoados situam-se por toda a Falésia, Planalto e Planície de Bandiagara. Pelo caminho temos um P.E. nas Ruínas de Hamdalalle a norte de Somadougou (e não a sul como o António colocou no programa para o pessoal se perder e falhar o ponto) e outro, no porto fluvial de Mopti onde almoçaremos. A paisagem é sempre verde, viçosa e está tudo enlameado. Após a época das chuvas as construções e casas, todas feitas de barro, têm que ser restauradas e conservadas. Por isso, a maioria das paredes das construções, edificadas em estilo sudanês, são atravessadas por vigas de madeira que servem não só para segurar o barro como de andaimes para os trabalhos de conservação. As suas paredes vão sendo corroídas pela chuva forte transformando-se num aguado lamacento que corre pelas ruelas e regos a céu aberto. Após as ruínas, percorremos 30 kms de pista até Mopti. Bela pista.
Em Mopti o PE é no grande porto fluvial. Daqui afluem e zarpam todos os barcos que transportam pessoas e mercadorias pelo Rio Níger até Tombouctou com vários apeadeiros, claro. 



O Restaurante Bozo onde planeamos almoçar ficava no lado contrário ao que estacionamos. Para não contornarmos o perímetro do porto, obra deveras difícil, apanhamos uma “pinaza”, uma piroga local, feita em tronco de árvore escavado que, habitualmente com muita gente a bordo, assusta um pouco pois a água quase entra a bordo. A ideia de cair naquela água suja e barrenta não é nada agradável.
O prato não podia deixar de ser peixe (capitão) que parece que tiveram que ir pescar após a encomenda. Por defeito, demoraram duas horas para nos servir. Ressalve-se a cervejinha que nunca faltou. A quantidade de comida servida foi muito pequena para o pessoal que depois de tão longa espera, estava esfomeado. Estava bom? Isso sem dúvida. Nem parecia peixe de rio, muito menos de água quente. Magnífico pitéu. Quando nos levantamos, como sempre, tudo o que é vendedores nos aguarda. Passamos pelos estaleiros onde, com muita mestria, são escavados os "veículos" que circulam no rio. Voltamos de piroga desta só eu, o António e outro passageiro que fomos deixar a um barco bastante maior. Ao que presumi seguiria nele para uma jornada mais longa. Isto fez com déssemos um passeio por toda a baia do porto que tem um transito fenomenal de embarcações de grande colorido e tamanho variado, algumas preparadas para fazer o “cruzeiro” de vários dias até à capital sagrada do deserto.



Abriu o sol e sentimos logo o rigor tropical mesmo no meio da água. Chegados ao “parking” grande confusão: tudo e todos queriam receber o parqueamento das viaturas. Como os empurramos todos para o António, “no veas”. Ele já está perfeitamente habituado.
Continuamos para Sangha, via Bandiagara, onde vamos ficar hoje e amanhã para visitarmos alguns povoados. São 50kms de asfalto e 30kms de pista de barro e rocha, sem pedra solta e algumas passagens a váu.



Ficamos no Campement/ Hotel La Guina – triplo CFA 30.000 e duplo CFA 25.000; p.almoço CFA 2.000 e refeição CFA 4.000. Ao jantar conhecemos um casal holandês que viajava com as três filhas. Viajaram desde Roterdão em dois 4x4. Na Mauritânia vaguearam pela Pista do Comboio, Atar, Chinguetti, Tidjika e finalmente Tombouctou onde venderam um dos carros. Daí vieram para Sangha. Depois de um serão de troca de vivências, experiências e duas de branco fresco tudo a dormir.

13.08.2010 - Hoje não levantamos arraial. Vamos visitar os povoados circundantes e voltamos à base - Sangha. As paisagens, rios e albufeiras circundantes são de uma coloração magnífica.



Um local veio perguntar ao Vicente se queria que lhe lavasse a roupa ao que este respondeu que sim, dependendo do preço. Achou o valor tão exorbitante que lhe disse para ir buscar a roupa dele que, por esse preço também lhe lavava a dele.
Confirma-se que a África é pobre mas não é barata.
Lá fomos dar o nosso passeio pela falésia que é magnífica com a sua imponente queda de água e as construções Telem e Dogon nas rochas até alturas impensáveis.





Descemos a falésia e já no planalto, a 350m de altura, torneamo-la admirando as construções edificadas na base e arribas.



Paramos numa plateia natural virada para a falésia, entre três árvores, para preparar o almoço. A temperatura está fabulosa, o céu nublado com abertas. Um lugar a fixar (N14°26.580’/W03°17.786’). Está a sair uma tortilha com cogumelos feita pelo Tomás e esposa que está com um óptimo aspecto. Não era só aspecto, estava deliciosa.
Quando não eis que aperece um Toyota de aluguer com condutor com o pessoal do Peugeot 405 que tinham ficado em Sandaré – o Joan, o David, o Ivan e a Mónica.
Não tínhamos notícias deles há três dias e aparecem – nos neste lugar remoto. Por estas bandas, vá lá saber-se porquê estamos sempre a ser surpreendidos. Repararam-lhe o cárter, deram um “jeito” na frente e já está apto para rolar. Por precaução deixaram-no em Bandiagara e vieram para os povoados de 4x4 alugado. Foi uma surpresa magnífica. Nada sabíamos da sua sorte e, afinal, conseguiram avançar “alive and kicking”. Almoçamos juntos enquanto nos contaram os pormenores da sua aventura. Não podiam faltar os habituais locais que aparecem do nada e nos “envolveram”.



Um deles montou banca de artesanato e, diferentemente de todos os restantes que nos melgam, não disse uma palavra. Fomos nós que nos abeiramos e lá fiz mais uma comprita: duas pequenas estátuas dogon em ébano que apelam à boa sorte.
Passamos pelos povoados e admiramos as esculturas em madeira.



Voltamos para o hotel. O Suliman vai connosco visitar o interior de Sangha. A aldeia é comunitária, com ruelas muito estreitas e as construções variam entre o xisto e o barro sendo este bastante mais preponderante.



O povo Dogon é agricultor. Os seus vizinhos Peul são pastores. A casa grande da família é um elo muito importante. Quando casam os dogon “montam” casa mas a casa dos pais continua a ser a casa da família que fica em herança para o filho mais velho. A família do Suliman é a “Tartaruga”. Então, no curral, que fica no perímetro exterior da casa, têm uma tartaruga convivente com as cabras e as galinhas. Algumas casas têm cozinhas típicas dogon – a parede frontal é decorada em favo e têm pendurados vários objectos de culto e do quotidiano e caveiras de animais. A porta principal e o postigo são esculpidos. No beiral superior estão cheias de ninhos de andorinha. É também vulgar o silo para guardar os cereais. O chão é em terra batida e nesta aldeia encontra-se bem limpo.
Fomos visitar a casa do ferreiro e sua forja. É uma actividade importante na aldeia. Conhecemos também a viúva do anterior Hogon – o ancião chefe da aldeia. Muito de fugida apontou-nos o actual que aparentava pressa. A praça dos povoados Dogon têm uma espécie de telheiro - com pilares e estrutura em troncos de madeira esculpidos e telhado com várias camadas de colmo - onde os mais velhos passam parte do dia a descansar e conversar em compridos bancos de madeira que, com o uso até estão brilhantes, de polidos. Estes telheiros são a "A Casa da Palavra” da aldeia. Quem tiver algo para dizer ou alguma queixa a fazer à comunidade é nesse local que deverá manifestar-se nas reuniões que aí acontecem frequentemente. E por esse motivo é que são edificadas com o tecto tão baixo. Se o orador se exaltar e tentar se levantar para falar mais alto, logo bate com a cabeça nas traves e amansa. Cool.



Existe também na aldeia as “Maisons des Régle” que são umas cubatas no limite do perimetro da aldeia para onde vão as mulheres quando estão no período menstrual. Deixam a casa da família e vão para essas cubatas. Passado o período regressam à família. Prontos pá.
Visitamos também o túmulo do primeiro francês que visitou o reino dogon e cuja ossada ficou em Sangha. O moinho comunitário também foi visita obrigatória. Perdeu um pouco o seu encanto original já que agora é movido por um motor a gasóleo. É o andar dos tempos numa das aldeias conservadas e vivas mais antigas que existem.
Assim terminou a nossa visita e voltamos ao hotel com o nosso guia e outro que se colou. Oferecemos-lhe uma cerveja e estivemos a beber e a conversar um pouco com eles. Acho que não estão habituados a beber e logo perderam o “fio do jogo”.
Após o jantar ouvia-se sons de festa vindos da aldeia. O Miguel e o Tomás, curiosos, decidiram ir ver. Chegados encontraram um grupo de jovens raparigas a cantar e a dançar enquanto os rapazes assistiam. Terminada a performance elas dirigiram-se aos intrusos espectadores a solicitar “cadeaux”, o costume. O Miguel que andava sempre com os seus balões para oferecer à criançada encheu alguns e deu-lhes.
Bom, a coisa não caiu nada bem. As raparigas acharam o “cadeaux” desajustado e começaram a barafustar contra eles. A coisa começou subir de tom.
Os rapazes tentavam acalmar as moçoilas mas não deram conta do recado.
O Miguel e o Tomás começaram a ficar amedrontados e a recuar sem tirar os olhos de cima delas já que, quando voltaram costas, começaram a “voar” alguns objectos que estas arremessavam. Imaginem isto a uns quinhentos metros do Albergue, sós, à noite, num povoado de barro, com ruelas muito estreitas e labirinticas, sem qualquer luz a não ser a lanterna de cabeça do Miguel que era um dos objectos cobiçados pelas agressoras.
Quando conseguiram algum espaço deram a correr para fora da aldeia em direcção ao albergue.. Não ganharam para o susto e valeu-lhes que os moçoilos em vez de se empertigarem procuraram acalmar a ira das fêmeas. Esterismos colectivos nestes cenários são complicados.
Era Sexta feira, dia 13. A coisa correu-lhes bem.



14.08.2010 - Temos hoje pela frente uma longa jornada. Vamos atravessar o Reino Dogon e visitar alguns dos seus povoados percorrendo 80kms de pista que, com as recentes chuvadas, estão inundadas e enlameadas com alguma zona de rocha também. Como bem agrada aos offroaders.



Já na EN, parcialmente em pista de barro, atravessaremos a fronteira do Mali entrando no Burkina Faso. O estradão em pista de barro que se segue levar-nos-à a Ouahigouya.
Desciamos a falésia quando vemos à esquerda, entre o arvoredo, um Patrol com matricula portuguesa. Paramos e dirigimo-nos ao jipe logo aparecendo um nosso patrício com quem trocamos algumas vivencias de viagem. Andavam a “circular” por África à três meses e vinham da Guiné Bissau. Continuação de "bonne route" amigos.
Passamos várias aldeias e paramos em duas – Domblossougou e Barapireli - para visitar e tirar umas fotos.





O ritual já foi descrito - chegar aos povoados e dirigir-se aos anciãos que normalmente estão a dormitar na “Casa da Palavra”. Cumprimenta-los e dar-lhes alguns CFA. Só depois é que se pode visitar o povoado e tirar umas fotos. Sucede que, num dos povoados, um dos velhotes não ficou lá muito contente com o donativo e manifestou-o provocando algum burburinho. Ainda tirei uma foto a um deles e ao telheiro mas quando ia para fotografar outro, já tal não permitiu.





Foram conversando com o António a pedir mais alguns CFA enquanto nós íamos “roubando” mais algumas fotos. A 15 kms da fronteira atasquei o Toyota que teve que ser rebocado de traseira pelo Patrol do Miguel.







O António começou a gozar... Não tardou a vez dele...





A pista termina num pântano bem difícil de ultrapassar e depois surge a povoação de Koro, povoado fronteiriço onde está a alfandega se entrega o passavant. Para encontrar o posto deciframos um autentico labirinto. Uns 10kms à frente a policia de fronteira. As instalações uns barracos; as linhas de fronteira umas pedras e uns bidões. Segue-se a fronteira do Burkina Faso. Toda esta ligação é feita num estradão largo de terra vermelha que dá para rolar bem. As instalações burkinabes têm melhor aspecto e só pagamos CFA 500 na policia e depois, em Thiou, mais CFA 5000 para a alfandega.
As demarches de entrada no Burkina são muito mais simplificadas. Alás é um pais mais limpo e organizado que os anteriores que visitamos. A Luso Team (o HDJ 80 e o Patrol) tinha decidido levar o Diego a Ouagadougou para apanhar o avião no dia 16, logo não ficaríamos em Ouahigoya. Comentamos com o pessoal a nossa intenção. Todos decidiram seguir para a capital, principalmente quando o António disse que o hotel tinha piscina e pizzas.
A pista de barro mais à frente fica demolidora com tantos buracos e regos.
Tremenda mestria a das cabras a comer em duas patas as folhas das acácias carregadas de picos enormes.
Está tempestade para os lados da capital. Esperamos que seja passageira.
Não é e está a agravar-se. Já não se vê a 30 mts. Depois abrandou mas não parou.
Ouagadougou recebe-nos molhada. É a cidade das bicicletas. São aos milhares. Tínhamos planos para um passeio depois do jantar mas a chuva e o vento não pararam e desanimamos. Apenas o Diego, em final de raid (partia de avião para Londres no dia seguinte) e  que não tinha jantado, decidiu ir ao centro. Lá convenceu um dos funcionários do hotel e foram na mota deste.
Estava focado em jantar no “De Niro” dada a indicação do Lonely Planet. Nada feito. O restaurante aparentava estar fechado havia tempo. Terminou num restaurante chinês e depois deu uma volta pelo centro onde descobriu um bar, o “Loft”, onde foi beber um copo com o seu "motorista". O Diego convidou-o a beber um cocktail como o dele mas este recusou o convite dado o custo da bebida, € 8,00. Tomara,  o seu salário mensal eram € 50.
Quem estava também no hotel era o Pepicant de quem nos tínhamos despedido em Sangha. Foi para a capital pois regressava a Espanha de avião na madrugada seguinte mas antes pretendia vender o seu Mitsubishi Pajero. Teve sorte. Naquela tarde conseguiu negócio por um preço bem razoável. Despedimo-nos mais uma vez dele e do filho desejando-lhes boa viagem. A nós desejaram-nos o mesmo.



15.08.2010 - A manhã foi também de despedidas. Do Diego, companheiro de viagem da Luso Team e que parte amanhã de avião para Inglaterra. Fizemos grande amizade e prometemos reencontrarmo-nos o mais rapidamente possível. Despedida também da famigerada Team Peugeot 405 que já não seguia para Bobo Dioulasso. O seu destino sempre foi Cotonou, capital do Benim. Com o azar do cárter já não quiseram desviar-se de rota e estavam indecisos se vendiam o Peugeot em Ouaga ou se seguiam nele até ao seu destino e o vendiam lá.
Despedidas feitas fomos dar um passeio pelo centro da cidade que embora limpa e arrumada não mostrou nada de atractivo. É uma capital pobre de um pobre pais africano. Mas é uma cidade briosa. O calor e a humidade que se faz sentir logo nos empapa. Vamo-nos habituando mas não somos destas bandas.
Hoje, ao final do dia, em Bobo Dioulasso, termina o Raid Burkina 2010 e é para lá que nos dirigimos. Pelo caminho desviamos com o Miguel para apanhar um geo – tesourinho. Passamos por uma coluna militar apeada chefiada á frente e atrás por duas mulheres. Burkina no seu melhor.
Procurar tesourinhos em geocaching é sempre obra. Fuça aqui, fuça ali. O tesourinho, ao que parece, foi colocado no terreno que pertencia a uma missão e o local evidenciava obras recentes. Lá foi o dito. No problem. Procura-se outro.
À saída da cidade vários troncos de árvore esculpidos. Uma boa ideia. Em vez de arrancar as arvores, que tal esculpi-las?
Saímos de rota para mais um tesourinho falhado mas desta subiram em vão um elevado promontório bem íngreme e distante de onde aparcamos os carros.
Em África não há reboques ou são raríssimos. Se tens uma avaria na estrada que não possas deslocar-te por meios próprios a solução é fazer o conserto na estrada. Se for necessário substituir peças à que tira-la no local e ir buscar outra para repor. Se for para consertar peças o processo é o mesmo. Desmontar, ir conserta-la e voltar para a repor. Para sinalizar as avarias em estrada usam arbustos. Cortam uns quantos e colocam-nos à frente e atrás do veiculo a uma distancia razoável.
Chegamos a Bobo Dioulasso.



O Toyota saiu de Ourém com 285.848kms e está com 292.770. Rolamos 6.922kms. Alojamo-nos no Hotel Auberge (CFA 36.000 a.p.a.), banho de piscina, de banheira e vamos jantar para festejar o final do Raid Burkina 2010. A mesa está posta na borda da piscina.
Dos participantes faltam, por ordem de despedida: o Pablo da BMW que teve um acidente antes de Bojador e foi repatriado para Espanha; Pepicant e filho que se despediu de nós em Sangha e voltamos a encontrar em Ouaga; os quatro magníficos do Peugeot 405 que ficaram em Ouga para seguir para Cotonou, capital do Benim e daí de avião para Espanha; o Diego que também ficou em Ouga para voltar para Inglaterra de avião. Convidados a filha de António e uma amiga que apareceu e se juntou ao grupo que passo a nomear: o António; o Roman “Glacius”; o Vicente e seus dois filhos; Tomás e a esposa e a Luso Team composta por mim, o Frederico, o Diogo e o Miguel. O António, desorganizador máximo propôs que todos fossem considerados vencedores do Raid. A “porra” seria para pagar o jantar e o que restasse seria dividida por carro. Toda a gente aceitou e coma-se muito e beba-se melhor.
Com alguns contratempos terminou bem o Raid Burkina 2010.
Para o ano “A Tribo” (La Tribu) vai até à Costa do Marfim.
Depois do jantar ainda fomos ver um show de precursão num clube perto hotel. Aliás, Bobo, é uma cidade de música que atuam por tudo quanto é lado ou bar.
Durante toda a noite ouvimos música proveniente de todas as coordenadas.



Amanhã começa o nosso regresso. O resto do grupo, que vai seguir directo, fica mais um dia em Bobo.
Nós partimos amanhã e não podemos deixar de ir por Dakar...

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