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domingo, 29 de agosto de 2010

II DIÁRIO




06.08.2010 – Despertar às 7h. É sempre bom chegar cedo a uma fronteira africana porque a coisa sempre se complica. Correu bem? Foi rápido de ambos os lados? Acorda, estás a sonhar ...
Chegamos a Guergarat ainda a fronteira estava fechada. Supostamente deveria abrir às 9h mas não há jeito. Uma meia hora depois lá a coisa começou a mexer. Docement...
O ritual é o seguinte: carros em fila aguardam a vez de serem chamados para entrar no “parque” da fronteira. Se não querem levar uma daquelas descomposturas jamais ultrapassem o sinal de “Haute de Police” sem a instrução do “fardas”.
Enquanto se aguarda, para adiantar serviço, pode levantar-se o formulário fronteiriço e preenche-lo. Entrados, o passo seguinte, é o guichet da polícia. Há que colocar o passaporte e o formulário no canto direito do guichet. Se já lá houver outros é coloca-lo por baixo. Nada de malandragem. Está tudo atento...
Chegando a vez o "secretário" chama pelo que é melhor aguardar por perto ou ter alguém a controlar. Para tratar dos trâmites de saída do veículo o responsável pela viatura quando liberado da policia deve dirigir-se à aduana com o passaporte, o documento único e o documento de entrada do veículo em Marrocos. Só fica a faltar a Gendarmerie que também têm que "anotar". Para evitar atrasos e perdas de vez o melhor é levar sempre todos os documentos. Assim, não falta nenhum.
Liberados dos tramites fronteiriços estamos prontos para atravessar a franja de terra com cerca de 3 kms que separa a fronteira marroquina da fronteira mauritana - a terra de ninguém
Na fronteira mauritana os procedimentos são mais ao menos os mesmos acrescendo que têm que se estar munido de visto e fazer o seguro do automóvel que pode cobre diversos países (escolher o que mais interessa conforme o trajecto visado).



Apareceu o Arturo, um guia mauritano bem conhecido de muitos portugueses destas andanças e um cromo que tinha trabalhado na pesca com portugueses que não se cansava de dizer alto e em bom som: “Então português, estás bem ou estás fodido, pá? És de Peniche, português?” Claro que fica a faltar aqui o sotaque e o “look” do cromo.Todos andam a ver se ganham algum no que quer que seja que o transfronteiriço precise. Até o Arturo anda a fazer trabalho de fronteira. Não há expedicionários para acompanhar na pista do comboio, Atar, Chinguetti “and so on”. A insegurança reduziu quase a zero o turismo no Atar mauritano.
Depois da frescura da manhã vêm o calor do meio-dia que aperta um pouco. A expectativa aperta ainda mais pois um dos viajantes não têm visto. Há um espirito "apostador" no ar. Vai passar, não vai passar? É que não estão a emitir vistos na fronteira. Uma rapariga informa-nos que os "fardas" marroquinos estavam a zoar o facto de que havia alguém no grupo sem visto e que ia avançar para a fronteira mauritana; um africano dizia que teve que ir a Rabat tirar o visto (são só 2.000kms ida e outro tanto de volta); passou de volta um furgão matrícula polaca com dois africanos sem visto – a coisa estava feia...    
A revista aos carros foi exaustiva – mais de meia hora por carro. É em nome da segurança, ok. O pior era a grande probabilidade de ficarmos sem os nossos vinhedos e as nossas cervejolas, tão fresquinhas que iam no magnífico frigo do HDJ. Mais uma grande expectativa.
Chegamos à fronteira mauritana às 11.30h (à marroquina às 08.45)e saímos às 16h. Pachorra. Haja. Ainda bem que as expectativas foram positivas. Passou o Glacius, os vinhedos e as cervejolas. O António lá “convenceu” os fardas a deixar passar o Glacius… O álcool foram precisos grandes coros e a maquina fotográfica desfeita do Fred (tinha caído do jipe para a estrada a cento e vinte à hora a alturas de Al Jadida).
Os custos são de € 12,50 por carro na fronteira e de € 21 para o seguro de 30 dias. Pelo visto já tinhamos pago € 60 cada.
Avancemos para Nouakchott (ou Nãoháquemtenxote como começa a ficar conhecida). No nosso carro quem ganhou a aposta foi o Fred. Vai jantar à pala na capital mauritana. Entramos no deserto mauritano primeiro para leste e depois para sul. O calor começa a apertar forte. Estão 40° e são 16.30h. Uma hora depois, mais interior, o termómetro marca 47°. Paramos a cerca de 130 kms da capital no ponto onde uma catalã e dois catalães tinham sido raptados à 10 meses. Ali fizemos votos para a sua mais rápida libertação em boa saúde. O ar estava irrespirável, denso. O sol torrava, fritava. Não se via nenhum ser vivo. Pelas 19.30, já perto do mar, a temperatura amainou para os 30°.
No controle policial de estrada cerca de 10 kms de Nkt, reparamos que a azáfama era maior que a habitual. Estavam muitos polícias e grande parte deles montados em motas. Ficamos admiradíssimos: era para escoltar a nossa entrada na capital mauritana. Fomos com escolta policial até ao hotel. A escolta não era nada sincronizada entre os motoqueiros e os apeados no terreno. Estávamos a ver quando é que um se “atirava” para o chão. Na via de acesso tudo ok, mas quando entramos na cidade, imaginem a bagunça. Nouakchott quase parou para a gente passar. Nas rotundas era o caos pois os agentes das motas chegavam em relâmpago e pretendiam que o transito parasse de imediato para nos dar prioridade... ninguém se magoou. Lá chegamos ao Hotel El Amade onde o aparato policial era ainda maior. Para além da polícia que nos acompanhava estavam lá pelo menos duas dezenas de policias, comum e militarizada, incluído a célebre “pick up” africana com um guarda e sua arma automática de grande calibre na caixa aberta. O António tinha solicitado escolta desde a fronteira. Como parece que a situação está mais calma as autoridades mauritanas entenderam suficiente a escolta para entrar na cidade. Na minha opinião esta é a melhor forma de chamar a atenção de quem pretendemos evitar.
Muitas vezes a opinião que fazemos de um hotel depende de pormenores sentidos de forma individual que, por esta ou aquela razão, não são iguais para todos os hóspedes. Neste caso uns reclamavam que não tinham AC., outros que o AC. estava óptimo e quase os gelava e ainda outros (o nosso caso) que o AC era deficitário ou nulo. Fica a referência: “Hotel El Amabe”, depois de o habitual regateio e tese de grupo, € 50,00 quarto duplo a.p.a. Capitais é sempre caro. Em Nkt recomendo um "hostal" magnífico e em bom preço perto do Hotel Halima.
Fomos jantar a uma pizzaria conhecida do António longe quanto baste do hotel mas tudo bem: é necessário esticar as pernas e a noite estava amena.
O casal do 4Runner não gostou do hotel e decidiu ir para outro. Não facilitaram: um polícia à porta do hotel e outro à porta do quarto. O Tomas estava estupefacto. Nunca se tinha sentido tão seguro e e tão importantes, disse.



07.08.2010 – O pequeno-almoço foi bom. Aliás tenho reparado que os pequenos-almoços em África estão a melhorar substancialmente.
Na saída de Nkt fomos igualmente escoltados só que com menos aparato e inconveniência para os locais. Sábado, pouco trânsito...
Toca a rumar ao Senegal e a mais uma grande expectativa. Será que vamos conseguir entrar no pais que, desde Junho, decidiu passar a cumprir à risca a lei “morta” sobre a entrada de veículos no pais – é obrigatório levar o CPD – Carnet de Passage en Douane - que em Portugal é emitido pelo ACP mas com exigências inaceitáveis. Nenhum de nós o têm. A ver vamos. Para já, rodas na estrada que a paisagem vai mudar. Se não nos deixarem entrar no Senegal o transtorno é mais que enorme. Implica muito sacrifício já que, além do mais, como vamos pela pista de terra de Diama (ou do PN de Diawling), se não entrarmos e tivermos que voltar são, de uma assentada, 200 kms de pista sem qualquer utilidade; aceder à Rota da Esperança desde Rosso além de ser feito em estradas secundárias são muitas centenas de kms debaixo de temperaturas próximas dos 50° nesta época.
Começa a savana a mostrar as primeiras acácias. Surge a África negra. As casas e as pessoas começam a “oprimir” as estradas. As pessoas não ficam ao longe. Começa o risco da malária – replente obrigatório, roupa que cubra o corpo é bastante aconselhável. Profilaxia como manda o médico.
A pista de Diama encantou toda a gente não só pela sua beleza mas porque o pessoal gosta mesmo é de off-road - taxa de passagem são € 5 por pessoa.



Ao HDJ caiu-lhe uma pala. Embrulha e guarda. Chegamos à fronteira mauritana de Keur Massene – policia mauritana € 10 por carro; passagem da ponte € 20, é sempre a somar, digo, a subtrair, à nossa caixa comum.
Passamos para bandas do Senegal.
Agora é que vão ser elas: convencer os "fardas" para que permitam a entrada dos carros no Senegal sem CPD e carros com mais de cinco anos. Policia senegalesa - € 10 e recebe-se de troco CFA 2.000. Recebe-se se os pedir, senão ficam. Vamos penar para a alfandega. Entra o António que tinha dito que não pagava um euro para além do devido para entrar. Claro que o resto do pessoal estava bastante mais flexível. Todos tínhamos consciência que nos faltava o documento que permitiria a entrada dos carros e que todos eles tinha mais que cinco anos. Passado cerca de uma hora sai sem sucesso. Propus-me tentar. Chegamos á fronteira às 14.30h e eram 18.30h quando estávamos a entrar no Senegal doidos por uma cerveja “Gazelle” gelada na esplanada do Hotel de La Post.



Ainda não tínhamos andado 3 kms, controle de polícia. “Deslargem-me melgas”. Vinham com o  chip do extintor e do triangulo. Và lá, estavam “on board”. Obras na Ponte Faidherbe...



Transito já de si caótico está bloqueado. A entrada de St. Louis é um mercado africano. Topam? Ficamos no La Post: já é paixonite. Regateio, duplo a.p.a € 50 e triplo € 60. Vamos é para a piscina que está óptimo. Depois de uma tarde tão stressante um banho de piscina sobranceira sobre um dos braços do Rio Senegal…



Ligeiro passeio pela cidade. Está “morta”. A crise global espalha-se simultaneamente. Jantar no Flamingo, vista de olhos no bar sempre com “live music” e para o quarto que há wi-fi e colocar as comunicações em ordem. Sono, sono… o romantismo do La Post relaxa, inspira, exalta a saber mais sobre o seu passado e o da cidade colonial onde foi construido. St. Louis foi a primeira capital do Senegal. O nosso quarto fica virado para a rua principal. Durante a noite foram passando autênticas “promenades” de locais tocando e cantando.



08.08.2010 - Domingo. St. Louis acorda devagar e tarde. É o melhor dia para visitar a cidade. Os insectos são menos insistentes que os vendedores e os pedinchas. O pequeno-almoço do La Post melhorou substancialmente. Um ligeiro passeio pela cidade até ao outro braço do Rio Senegal – é a zona piscatória e parece um caixote onde vazaram todo o lixo da ilha. Já nem falo do cheiro. St. Louis está muito mal cuidada e os seus então belos edifícios coloniais estão devolutos e ameaçam ruina.
É hora de seguir viagem. Hoje ficaremos pelas redondezas de Kidira, cidade senegalesa que faz fronteira com o Mali (Diboli). Vamos percorrer a riviera do Senegal que bordeja o rio com o mesmo nome. Os habituais controlos de polícia. As povoações e mercados que esmagam o alcatrão que os separou. “Alhamdoulilahi” deve ser a mais famosa companhia de transporte de passageiros e mercadorias por estas bandas com os seus furgões a cair de podres e de peças. Vá lá, não vi deixarem cair nenhum passageiro ou "encomenda".
Depois de St. Louis só há combustível em Ross Béthio. Vive-se a época das chuvas. Ainda assim, entre as 11.30 e as 17.30h, quando o céu está limpo, tudo arde e quando está encoberto, tudo cose. Imagine-se na época quente. É demais viver debaixo de tamanho rigor climatérico. A sombra é o lugar mais almejado por todos os seres que respiram e se movem. A paisagem está verdejante. As acácias estão “gordas” de tanta folha. Não são os espinhos que sobressaem. Almoçamos debaixo de uma delas. Estão 34° mas corre uma frescura na sombra da nossa protectora solar. Estamos divinos. O pintor que pouse o pincel. Ninguém mexa no climatizador. O Miguel confeccionou e comemos uma "pasta al pene com cogumelos" Continente made que recomendo vivamente. Não se pode comer muito nestas temperaturas.



Circula-se bem. O tapete é bom e o trânsito escasso. Contudo, o condutor não deve baixar a guarda: buracos e animais podem revelar-se fatais. É um esticão de St. Louis a Kidira. A estrada rende ou o cansaço começa a criar depósito.
Perto do destino mais um “ex libris” que ainda não tinha aparecido – o embondeiro (baobab) – a árvore de África, lindas e vestidas de "gala" nesta época húmida.



É precisamente debaixo e ao redor de um enorme exemplar desta espécie que montamos o acampamento para esta noite. Estamos a 10 kms da fronteira, a temperatura está magnífica, fazemos uma fogueira enorme (não há risco de incêndio, está tudo verdejante). Foi uma soirée e noite de rara paz e beleza num palco onde os "músicos" só se ouviam. A meio da noite alguém decidiu refrescar o "quadro", ao de leve, com uma chuva suave. A música, essa, com altos e baixos, nunca parou.



09.08.2010 - O objectivo hoje é Bamako. Para mim é duplo pois fiquei pelo caminho quando pretendia alcançar essa capital em Janeiro com o BB 2010.
Esqueci de referir que com o Ramadão estes países que visitamos acertaram a hora para -1 GMT.
Levantar camping e rumar à fronteira. Logo que se chega a Kidira há que virar à esquerda para o primeiro carimbo de polícia (para quem entra, a aduana é também logo à frente para conseguir o famigerado "passavant"). Voltar e atravessar a vila na direcção da fronteira. Começa o mar de camiões que transportam tudo o que o Mali necessita desde o porto de Dakar no Senegal. O Mali não tem frente para o mar... O Mali pais cujo nome permaneceu do Império do Mali (estado da África Ocidental que existiu entre 1230 e 1600 aproximadamente e abrangia o que hoje, grosso o modo, corresponde ao território ocupado pela Gâmbia, Senegal, Guiné-Bissau, Guiné-Conakri, Mali e Burkina Faso) ficou sem saída para o mar. As mercadorias que chegam ao porto de Dakar com destino ao Mali tem que atravessar todo o Senegal para entrarem no pais tendo que passar mais uma fronteira terrestre o que, em África, é sinónimo de muito tempo perdido, burocracia e "luvas". 
Segundo controle de polícia de fronteira. Segue a alfândega (douane) para dar saída do carro entregando o nosso "precioso" passavant de 48 horas conseguido em Diama.
Finalmente preparo-me para entrar no Mali depois da tentativa falhada de Janeiro com o BB 2010. A fila de camiões dos dois lados da estrada é interminável. Dirigimo-nos á alfândega – papéis do costume, documento único, passaporte e seguro. Tudo bem mas o "fardas" do carimbo não está. Trabalhou até tarde e está a dormir. Há que aguardar. Quanto tempo? Há que aguardar. Afinal, como não temos visto há que ir para trás cerca de um quilómetro e meio fazendo slide através dos camiões, com saídas e entradas de estrada para depois atravessarmos o povoado onde, depois de muito procurar e circular, lá encontramos o comissariado.
Chegamos à fronteira às 8.30h e só às 10.30h é que conseguimos livrar-nos da alfândega contra o pagamento de € 10 por carro. Às 12.00 ficam os vistos prontos. São € 25 por vistos. Mas como pagamos em euros temos que pagar mais € 20 porque os fardas têm que ir a cerca de 20 kms para fazer o câmbio. É gozo... esta malta tem uma imaginação para “sacar pasta”. Tudo pronto para seguir. Tudo ou quase: agora é um camião que bloqueia a estrada. Outro a tentar passar têm um milímetro de cada lado. O milímetro começou a encolher e como resultado foi arrancando pedaços aos camiões que estavam dos lados, deixando também alguns seus. Aparecem os interessados para ver os estragos. Como já temos espaço para passar, aqui vamos nós. É a fronteira rodoviária de mercadorias. Imagino o caos e o "custo" para desalfandegar e fazer circualr as mercadorias mesmo tratando-se de dois paises da UEMOA.
A estrada está boa até Segala. Depois são só buracos. São buracos no asfalto que se o condutor não tem cuidado fica sem um pneu, uma jante, um eixo, etc. Seguíamos à frente, no HDJ e depois o Patrol. Passamos o pessoal do Peugeot 405. Alguns quilómetros à frente o Fred perdeu o Patrol de vista. Paramos para esperar por eles e aproveitar para comer qualquer coisa. Comer, fomos comendo. O Patrol é que não aparecia. Tentamos pelo rádio, nada. Voltamos para trás. Alguns quilómetros depois conseguimos contacto pelo rádio. Vinham a rebocar o Peugeot. Na curva seguinte logo apareceram. O Peugeot não tinha conseguido evitar um buraco mais profundo e partiu o cárter. O Joan e o David decidiram ir a Kayes no carro de um local tentar arranjar um cárter. A Mónica e o Ivan vinham no Peugeot, rebocados pelo Patrol até ao próximo povoado, Sandaré, onde diziam haver um mecânico. Seguimos juntos. O Patrol / Peugeot à frente, nós no HDJ e o Subaru que entretanto apareceu, na vassoura. Rebocar um carro numa estrada cheia de buracos é obra. O rebocado, de travões, só tinha o de mão a funcionar. Imaginem a perícia.
Para completar a "paisagem" à nossa frente segue um autocarro turístico da companhia “Sangue Voyage”. Boa...
Um pouco adiante, a argola de reboque do Peugeot cedeu e o Patrol quase lhe arrancava a frente toda. Toca a parar para “remendar” a frente do Peugeot e procurar outra peça onde amarrar a cinta. Não foi obra fácil. A frente, do lado direito, avançou meio metro. Cinta de aqui, cinta de ali, lá ficou parecido com estava anteriormente, agora em modelo amassado. Para fixar a cinta de reboque houve que subir o carro com o macaco e o corajoso Diego lá se atirou para debaixo do Peugeot para a amarrar ao charriot. Toca a andar que se faz noite...



A povoação nunca mais chegava, chovia, os buracos aumentavam, mas íamos progredindo. Chegamos a Sandaré.
Saímos da estrada para o interior da população. Se aqui não é o fim do mundo devemos estar muito próximo. Juro ter visto "a ultima meia que o diabo perdeu".
Afinal o mecânico está na borda da estrada de onde saímos. Quando paramos para saber onde ficava a oficina do mecânico, como do costume, juntou-se toda a populaça e desde logo, o tolo da aldeia que, trazia algo parecido com uma viola. A viola tinha um tubo ligado à caixa que o "virtuosi" colocava no ouvido quando tocava. Devia era surdo como uma porta...
Lá apareceu o mecânico. Há que empurrar o carro para a oficina que fica a uns 50 metros. Custou-nos muito deixa-los. Mas foram eles que escolheram tamanha aventura: atravessar meia África num Peugeot 405 é uma escolha arrojada ou pelo menos as probabilidades de avarias e contratempos é muito superior. Isto fazia parte da aventura. Ficamos em contacto.
O Subaru decidiu ficar mais um pouco até que os outros chegassem o que não tardaria muito dada a informação que logo recebemos. São 17.30h e ainda não andamos nada. Tarda nada escurece. Seguimos para Bamako? Ficamos em Diema? Para já o objectivo é Bamako pois passado Sandaré o asfalto está impecável. O trânsito é diminuto. É só andar. Os quilómetros é que ainda são muitos.
Começa a chover forte. Parece que cai em chapa quente. A luz do dia também não vai aguentar muito. Pelas 18h anoitece. Bem sabemos um principio básico – não conduzir em África à noite – mas a vontade de chegar a Bamako é muita, tanto mais que, pelo caminho, só dormindo em camping selvagem e há tantos, mas tantos, insectos no ar que a ideia não nos soa bem. Faltam 300 kms. Decidimos fazer um café. Já tínhamos percebido que não ia ser fácil sair dos carros. O ar estava empestado de insectos. Não só nos picavam como os respirávamos e, se abrissemos a boca... estavam "dissolvidos" no ar que respiravamos. Insistimos. A noite está magnífica (não fora a bicheza voadora). No meio do nada pode-se observar convenientemente o céu em todo o seu esplendor. Os sons da savana também eram emitidos sem receios e sem interferências. Fizemos e tomamos o café para logo seguir viagem. A 100 kms de Bamako, do lado esquerdo da estrada estava parte do grupo acampado. Paramos só para dizer ao António que só parávamos em Bamako e despedimo-nos até ao dia seguinte.
Os últimos quilómetros têm mais metros. Nos arredores de Bamako a estrada começa a subir até aos 550 metros. A cidade estende-se pela planície que se segue. De cima enxergamos o “lago” de luzes da cidade, qual Los Angeles. São 2.30h da madrugada. Ainda assim não resistimos a dar uma volta de carro pela cidade.
Segunda-feira a cidade está calma mas nos arredores das discotecas há uma multidão aguardando entrada. Depois do passeio fora de horas fomos para o Grande Hotel de Bamako que é um pouco carote. Capital é capital. Depois de muito negociar lá fixamos o alojamento em € 80 por quarto. Ficamos bem instalados.

10.08.2010 – Depois de muito negociarmos lá conseguimos um lauto pequeno-almoço “self-service” por € 15 para dois. Em África se não se negoceia paga-se o dobro ou o triplo, mesmo nos melhores hoteis. Eles adoram negociar. Os árabes meterem-lhe o vício no sangue. A transacção não tem graça se não é discutida, negociada, "bebida". O HDJ tem uma cavilha no pneu traseiro esquerdo. É um atraso para as nossas intenções de chegar cedo à embaixada do Burkina Faso para solicitar (e pagar bem pagos) os vistos. Passaporte, formulário preenchido, duas fotos e CFA 47.000. Tinha que ser pago em CFAs. Com a proeminência do euro raramente tenho moeda local. Lá fomos a um hotel próximo sacar CFAs de uma caixa automática. À saída diz a “madame” do guichet: “Passem aqui amanhã de manhã". O quê? Hoje temos que ir dormir a Segou. "Ok, passem às 15h e se não estiver pronto esperam. É que há muitos vistos para emitir”. O pessoal por estas bandas é muito ocupado em deixar correr a vida.
Voltamos para o hotel. Está fresco e lá fora está canícula. Há wi-fi, cervejinha e uns belos sofás. Pagamos caro a estadia e o pequeno almoço. Agora usufriumos de umas horas de sofá, internet e ar condionado e cervejinha bem fresca. Relaxemos.
A máquina MB do hotel “apanhou” o cartão ao Tomás. Pronto já tem que penar. Consegue o número de telefone da encarregada da máquina e já não a larga mais com chamadas. Por volta das 14.30 lá conseguiu reaver o cartão. As 15h saímos para a embaixada e às 15.30 já tínhamos os passaportes com os vistos e estávamos aptos para abalar para Segou. Para deixar Bamako atravessamos o Rio Níger que, juntamente com o seu afluente Bani, nos vai acompanhar nos próximos dias. Estão a transbordar nesta época. Embora o Mali não tenha SCUTS, tem portagens. Seguimos para Segou. A savana apresenta agora evidências de transição para a "rainforest", sua vizinha mais a sul. Segou fica na margem sul do Rio Níger. Chegamos já de noite. A entrada em Segou é feita numa estrada recta com uns 12 kms totalmente iluminada como poucas na Europa. Ficamos admirados. O “Auberge” era castiço, típico, com boa musica e bom ambiente.



Apareceram os habituais vendedores de porta de hotel, um dos quais um tuareg vestido a rigor. Lá lhe comprei um cachimbo e dois colares depois das habituais negociações. Sempre que negoceio com muçulmanos fico com a sensação que fiz um mau negócio. Desta não foi excepção. Este pessoal também precisa de encaixar umas moedas. Este, além do mais, dizia-se vindo de Tombuctu e estava vestido e bronzeado a rigor.



Os quartos são separados uns metros da recepção e do restaurante onde jantamos bastante bem.

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