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terça-feira, 31 de agosto de 2010

III DIÁRIO



11.08.2010 – Madrugada e manhã de tempestade tropical. Muita chuva, trovoada e vento. Temperatura sempre boa. No “Auberge” de Segou o triplo a.p.a são CFA 39.000. Ao de leve Segou recomenda-se. Apelidava-a de uma cidade rústica e cosmopolita. O Rio Níger é enorme em frente às margens da cidade. Transborda também. O nosso destino de hoje é Djenné, famosa pela sua grande mesquita de barro. Depois de 30kms em asfalto entramos em pista de barro. Serão 230kms de magnífica pista de barro com passagem por vários povoados.





Paisagem bucólica e chuva só um pouco. A terra quente e a vegetação transpiram e o seu suor é de um odor forte, que oprime os brônquios não deixando contudo de ser agradável, relaxante. Próximo de Djenné chama-nos a atenção um povoado distante pela sua enorme e imponente mesquita que se destaca no meio do casario barrento e rasteiro. Pelos binóculos vimo-la melhor. É imperdível. Vamos visita-la.



O ritual introdutório é cumprimentar e conversar um pouco com os anciãos da aldeia que desta descansam e cavaqueiam numa plataforma de madeira à entrada do povoado. Depois, com o seu consentimento ajudado por uns CFA para cola lá entramos no povoado. Ruelas muito estreitas em terra batida, lama e água mas, em tudo o mais, limpa. Brincamos e fotografamos a criançada que estava eufórica.



Chegamos à mesquita no ponto mais elevado. É magnífica mas está “asfixiada” pelo casario pelo que não pode ser devidamente apreciada e fotografada.



Os insectos não nos largam. Voltamos a descer e retomamos a pista para o nosso destino. À entrada da aldeia há um lago onde tudo o que é mulher lava a roupa e a louça e a criançada brinca e chafurda.
Djenné é uma desilusão como urbe. O seu pessoal não fica atrás. Alojamo-nos no “Campement Hotel Hauber” – quarto triplo CFA 25.000 e duplo 20.000; pequeno-almoço CFA 2.000 e jantar CFA 5000. De “campement” tem os telhados dos bungalows que nesta época são inutilizáveis. Pessoal do hotel nada simpático e prestável. Sem net, chovia pelo telhado de palha da recepção, os bungalows tinham AC mas eram paupérrimos. A “foto” estava feia. Não merecia a impressão quanto mais a moldura. Se fosse possível carregava no “delete” - tudo muito fraco. Demos uma volta à vila. Na praça a seguir ao hotel decorria um jogo de futebol entre djennenses com uma bola muito leve e fugidia. Seguimos para a mesquita sempre acompanhados pelos insectos voadores e os pedantes também. Não há forma de nos livrarmos deles. A mesquita está em obras e custa uma fortuna visitar o seu interior que nada tem de interesse. É apenas para franquear.



Queríamos comprar uns chapéus Dogon e o Antonio disse-nos que o melhor local era o mercado que transbordava para a praça da mesquita. A mesquita fica melhor na fotografia. Vá lá – é fotogénica. Lá entramos no recinto do mercado. A enxovia e colorido do costume, em sujo e fedorento. Sempre que podemos “roubamos” umas fotos. As vendedeiras não curtem principalmente porque não compramos nem confraternizamos. É “roubar” mesmo. Conscientes, mas não conformados, sempre vamos fazendo uns click.



O “man” dos chapéus não veio mas o nosso guia involuntário diz que logo ali e coisa e tal não faltam chapéus bons e baratos, claro. Não fizemos negócio para seu descontentamento. Como não fiz grande negócio com o tuareg de Segou decidi que os próximos remediariam o deficit. Aceitaria ser benevolente se houvesse troca por roupa que levava para o efeito. Caso contrário só pechinchas. Mas o que regala as vistas deste pessoal é o material electrónico. Não voltamos para o hotel sem que o nosso guia nos levasse pelas congostas do vilarejo e nos fizesse entrar numa casa e subir até ao telhado onde dizia haver chapéus Dogon para venda. Por um momento pensamos que nos estava a por a jeito mas não. Esta gente é ardilosa, teimosa, melguenta, mas não é delinquente nem violenta. Os magníficos telhados de Djenné...



Depois de muito "bargain" comprei três colares numa banca perto do hotel. Já no recinto do hotel, logo à entrada, existiam umas barracas de artesanato. Tinham peças interessantes inclusive os chapéus. Antes e depois de jantar foi uma azáfama negocial. Ao jantar não tinham bebidas alcoólicas nem permitiam que trouxéssemos as nossas. Ficamos furiosos. Perguntamos se era pelo facto de estarmos no período do Ramadão que começava no dia seguinte – o que até compreenderíamos – dizem que não. A proibição é para sempre. São motivos religiosos. Grandes talibãs. Tirem-me daqui. Ficou famosa a frase – Djenné jamais. Quanto às negociatas fui mais uma vez bastante benevolente nas trocas. Resumindo: permutei com um dos comerciantes do hotel, uma máscara, uma estátua Bambara (a Tyi Wara que é o troféu atribuído ao melhor agricultor do ano) e um chapéu Dogon por € 40 e 4 pólos. Por ele ficávamos a negociar mais material mas eu logo disse que a partir de agora seria só troca directa.



Apareceu o Roman que tinha ficado em Bamako a tratar do visto para a Mauritânia. Claro que na embaixada ficaram curiosos como é que ali estava sem visto. Clandestino pois claro. Grande maluco. Anda por aí sozinho por estradas e pistas. Desta, quando se dirigia a Djenné, para cortar caminho, meteu-se já de noite numa pista. Acontece que, logo à frente a pista estava alagada. Parou no último momento. Mais um pouco passaria a noite atascado no meio do nada e com os pés molhados. Borrou-se todo. Isto é sorte pura e um acto destes é manifestamente reprovável. A aventura pode terminar com um acto irreflectido destes. Para si e para os companheiros de viagem. Como anda num carro a gasolina, produto dificil de encontrar por aqui, desespera para arranjar combustível e fica para trás á procura do dito (anda carregado com bidões de plástico cheios na mala...). Uma bomba relógio este Glacius. O seu móvel não funciona. Uma figura desafogada à solta em solo que pede alguns cuidados.
Depois do jantar voltei aos negócios por insistência de um dos comerciantes. Logo lhe disse que não tinha mais dinheiro. Só troca por roupa. De volta negociei duas estátuas de um casal Soré (do povo Amoré, rima não é?) em bronze e nas quais se encontra a serpente símbolo da abundância e da sorte (a serpente de um modo geral vive onde há abundância de água, vegetação e outros animais que lhe servem de petisco). Acabo de atender este e logo sou chamado pelo primeiro. Desta foi ao baú buscar as preciosidades. Pronto mais umas roupitas e lá trouxe uma máscara Bozo em terracota e duas em ébano para equilibrar o negócio. Bom, se não foi assim foi parecido. Só vou confirmar quando “desmontar” os embrulhos e as malas. Estes comerciantes ganham a vida com o artesanato mas fazem questão que se negoceie o preço, exigem explicar a origem e o significado de cada peça, especialmente as máscaras e as estátuas. Nós é que entramos e saímos a todo o gás pois o raid não permite muito relax. É com pena que não falamos mais um pouco com os locais e aprofundamos as suas lendas, a sua cultura, a sua religião...



12.08.2010 -Madrugada de chuva forte. Manhã encoberta mas sem chuva. Entrar e sair de Djenné pelo lado sul obriga a usar o ferry para uma pequena travessia do Bani, afluente do Níger. Como sempre os vendedores aguardam os viajantes. Lá fiz mais um negociozito – uma estátua esguia em bronze de uma agricultora. As estátuas esguias africanas de madeira ou bronze são magníficas. Hoje terminamos a nossa etapa em Sangha, um dos muitos povoados do Reino Dogon. Estes povoados situam-se por toda a Falésia, Planalto e Planície de Bandiagara. Pelo caminho temos um P.E. nas Ruínas de Hamdalalle a norte de Somadougou (e não a sul como o António colocou no programa para o pessoal se perder e falhar o ponto) e outro, no porto fluvial de Mopti onde almoçaremos. A paisagem é sempre verde, viçosa e está tudo enlameado. Após a época das chuvas as construções e casas, todas feitas de barro, têm que ser restauradas e conservadas. Por isso, a maioria das paredes das construções, edificadas em estilo sudanês, são atravessadas por vigas de madeira que servem não só para segurar o barro como de andaimes para os trabalhos de conservação. As suas paredes vão sendo corroídas pela chuva forte transformando-se num aguado lamacento que corre pelas ruelas e regos a céu aberto. Após as ruínas, percorremos 30 kms de pista até Mopti. Bela pista.
Em Mopti o PE é no grande porto fluvial. Daqui afluem e zarpam todos os barcos que transportam pessoas e mercadorias pelo Rio Níger até Tombouctou com vários apeadeiros, claro. 



O Restaurante Bozo onde planeamos almoçar ficava no lado contrário ao que estacionamos. Para não contornarmos o perímetro do porto, obra deveras difícil, apanhamos uma “pinaza”, uma piroga local, feita em tronco de árvore escavado que, habitualmente com muita gente a bordo, assusta um pouco pois a água quase entra a bordo. A ideia de cair naquela água suja e barrenta não é nada agradável.
O prato não podia deixar de ser peixe (capitão) que parece que tiveram que ir pescar após a encomenda. Por defeito, demoraram duas horas para nos servir. Ressalve-se a cervejinha que nunca faltou. A quantidade de comida servida foi muito pequena para o pessoal que depois de tão longa espera, estava esfomeado. Estava bom? Isso sem dúvida. Nem parecia peixe de rio, muito menos de água quente. Magnífico pitéu. Quando nos levantamos, como sempre, tudo o que é vendedores nos aguarda. Passamos pelos estaleiros onde, com muita mestria, são escavados os "veículos" que circulam no rio. Voltamos de piroga desta só eu, o António e outro passageiro que fomos deixar a um barco bastante maior. Ao que presumi seguiria nele para uma jornada mais longa. Isto fez com déssemos um passeio por toda a baia do porto que tem um transito fenomenal de embarcações de grande colorido e tamanho variado, algumas preparadas para fazer o “cruzeiro” de vários dias até à capital sagrada do deserto.



Abriu o sol e sentimos logo o rigor tropical mesmo no meio da água. Chegados ao “parking” grande confusão: tudo e todos queriam receber o parqueamento das viaturas. Como os empurramos todos para o António, “no veas”. Ele já está perfeitamente habituado.
Continuamos para Sangha, via Bandiagara, onde vamos ficar hoje e amanhã para visitarmos alguns povoados. São 50kms de asfalto e 30kms de pista de barro e rocha, sem pedra solta e algumas passagens a váu.



Ficamos no Campement/ Hotel La Guina – triplo CFA 30.000 e duplo CFA 25.000; p.almoço CFA 2.000 e refeição CFA 4.000. Ao jantar conhecemos um casal holandês que viajava com as três filhas. Viajaram desde Roterdão em dois 4x4. Na Mauritânia vaguearam pela Pista do Comboio, Atar, Chinguetti, Tidjika e finalmente Tombouctou onde venderam um dos carros. Daí vieram para Sangha. Depois de um serão de troca de vivências, experiências e duas de branco fresco tudo a dormir.

13.08.2010 - Hoje não levantamos arraial. Vamos visitar os povoados circundantes e voltamos à base - Sangha. As paisagens, rios e albufeiras circundantes são de uma coloração magnífica.



Um local veio perguntar ao Vicente se queria que lhe lavasse a roupa ao que este respondeu que sim, dependendo do preço. Achou o valor tão exorbitante que lhe disse para ir buscar a roupa dele que, por esse preço também lhe lavava a dele.
Confirma-se que a África é pobre mas não é barata.
Lá fomos dar o nosso passeio pela falésia que é magnífica com a sua imponente queda de água e as construções Telem e Dogon nas rochas até alturas impensáveis.





Descemos a falésia e já no planalto, a 350m de altura, torneamo-la admirando as construções edificadas na base e arribas.



Paramos numa plateia natural virada para a falésia, entre três árvores, para preparar o almoço. A temperatura está fabulosa, o céu nublado com abertas. Um lugar a fixar (N14°26.580’/W03°17.786’). Está a sair uma tortilha com cogumelos feita pelo Tomás e esposa que está com um óptimo aspecto. Não era só aspecto, estava deliciosa.
Quando não eis que aperece um Toyota de aluguer com condutor com o pessoal do Peugeot 405 que tinham ficado em Sandaré – o Joan, o David, o Ivan e a Mónica.
Não tínhamos notícias deles há três dias e aparecem – nos neste lugar remoto. Por estas bandas, vá lá saber-se porquê estamos sempre a ser surpreendidos. Repararam-lhe o cárter, deram um “jeito” na frente e já está apto para rolar. Por precaução deixaram-no em Bandiagara e vieram para os povoados de 4x4 alugado. Foi uma surpresa magnífica. Nada sabíamos da sua sorte e, afinal, conseguiram avançar “alive and kicking”. Almoçamos juntos enquanto nos contaram os pormenores da sua aventura. Não podiam faltar os habituais locais que aparecem do nada e nos “envolveram”.



Um deles montou banca de artesanato e, diferentemente de todos os restantes que nos melgam, não disse uma palavra. Fomos nós que nos abeiramos e lá fiz mais uma comprita: duas pequenas estátuas dogon em ébano que apelam à boa sorte.
Passamos pelos povoados e admiramos as esculturas em madeira.



Voltamos para o hotel. O Suliman vai connosco visitar o interior de Sangha. A aldeia é comunitária, com ruelas muito estreitas e as construções variam entre o xisto e o barro sendo este bastante mais preponderante.



O povo Dogon é agricultor. Os seus vizinhos Peul são pastores. A casa grande da família é um elo muito importante. Quando casam os dogon “montam” casa mas a casa dos pais continua a ser a casa da família que fica em herança para o filho mais velho. A família do Suliman é a “Tartaruga”. Então, no curral, que fica no perímetro exterior da casa, têm uma tartaruga convivente com as cabras e as galinhas. Algumas casas têm cozinhas típicas dogon – a parede frontal é decorada em favo e têm pendurados vários objectos de culto e do quotidiano e caveiras de animais. A porta principal e o postigo são esculpidos. No beiral superior estão cheias de ninhos de andorinha. É também vulgar o silo para guardar os cereais. O chão é em terra batida e nesta aldeia encontra-se bem limpo.
Fomos visitar a casa do ferreiro e sua forja. É uma actividade importante na aldeia. Conhecemos também a viúva do anterior Hogon – o ancião chefe da aldeia. Muito de fugida apontou-nos o actual que aparentava pressa. A praça dos povoados Dogon têm uma espécie de telheiro - com pilares e estrutura em troncos de madeira esculpidos e telhado com várias camadas de colmo - onde os mais velhos passam parte do dia a descansar e conversar em compridos bancos de madeira que, com o uso até estão brilhantes, de polidos. Estes telheiros são a "A Casa da Palavra” da aldeia. Quem tiver algo para dizer ou alguma queixa a fazer à comunidade é nesse local que deverá manifestar-se nas reuniões que aí acontecem frequentemente. E por esse motivo é que são edificadas com o tecto tão baixo. Se o orador se exaltar e tentar se levantar para falar mais alto, logo bate com a cabeça nas traves e amansa. Cool.



Existe também na aldeia as “Maisons des Régle” que são umas cubatas no limite do perimetro da aldeia para onde vão as mulheres quando estão no período menstrual. Deixam a casa da família e vão para essas cubatas. Passado o período regressam à família. Prontos pá.
Visitamos também o túmulo do primeiro francês que visitou o reino dogon e cuja ossada ficou em Sangha. O moinho comunitário também foi visita obrigatória. Perdeu um pouco o seu encanto original já que agora é movido por um motor a gasóleo. É o andar dos tempos numa das aldeias conservadas e vivas mais antigas que existem.
Assim terminou a nossa visita e voltamos ao hotel com o nosso guia e outro que se colou. Oferecemos-lhe uma cerveja e estivemos a beber e a conversar um pouco com eles. Acho que não estão habituados a beber e logo perderam o “fio do jogo”.
Após o jantar ouvia-se sons de festa vindos da aldeia. O Miguel e o Tomás, curiosos, decidiram ir ver. Chegados encontraram um grupo de jovens raparigas a cantar e a dançar enquanto os rapazes assistiam. Terminada a performance elas dirigiram-se aos intrusos espectadores a solicitar “cadeaux”, o costume. O Miguel que andava sempre com os seus balões para oferecer à criançada encheu alguns e deu-lhes.
Bom, a coisa não caiu nada bem. As raparigas acharam o “cadeaux” desajustado e começaram a barafustar contra eles. A coisa começou subir de tom.
Os rapazes tentavam acalmar as moçoilas mas não deram conta do recado.
O Miguel e o Tomás começaram a ficar amedrontados e a recuar sem tirar os olhos de cima delas já que, quando voltaram costas, começaram a “voar” alguns objectos que estas arremessavam. Imaginem isto a uns quinhentos metros do Albergue, sós, à noite, num povoado de barro, com ruelas muito estreitas e labirinticas, sem qualquer luz a não ser a lanterna de cabeça do Miguel que era um dos objectos cobiçados pelas agressoras.
Quando conseguiram algum espaço deram a correr para fora da aldeia em direcção ao albergue.. Não ganharam para o susto e valeu-lhes que os moçoilos em vez de se empertigarem procuraram acalmar a ira das fêmeas. Esterismos colectivos nestes cenários são complicados.
Era Sexta feira, dia 13. A coisa correu-lhes bem.



14.08.2010 - Temos hoje pela frente uma longa jornada. Vamos atravessar o Reino Dogon e visitar alguns dos seus povoados percorrendo 80kms de pista que, com as recentes chuvadas, estão inundadas e enlameadas com alguma zona de rocha também. Como bem agrada aos offroaders.



Já na EN, parcialmente em pista de barro, atravessaremos a fronteira do Mali entrando no Burkina Faso. O estradão em pista de barro que se segue levar-nos-à a Ouahigouya.
Desciamos a falésia quando vemos à esquerda, entre o arvoredo, um Patrol com matricula portuguesa. Paramos e dirigimo-nos ao jipe logo aparecendo um nosso patrício com quem trocamos algumas vivencias de viagem. Andavam a “circular” por África à três meses e vinham da Guiné Bissau. Continuação de "bonne route" amigos.
Passamos várias aldeias e paramos em duas – Domblossougou e Barapireli - para visitar e tirar umas fotos.





O ritual já foi descrito - chegar aos povoados e dirigir-se aos anciãos que normalmente estão a dormitar na “Casa da Palavra”. Cumprimenta-los e dar-lhes alguns CFA. Só depois é que se pode visitar o povoado e tirar umas fotos. Sucede que, num dos povoados, um dos velhotes não ficou lá muito contente com o donativo e manifestou-o provocando algum burburinho. Ainda tirei uma foto a um deles e ao telheiro mas quando ia para fotografar outro, já tal não permitiu.





Foram conversando com o António a pedir mais alguns CFA enquanto nós íamos “roubando” mais algumas fotos. A 15 kms da fronteira atasquei o Toyota que teve que ser rebocado de traseira pelo Patrol do Miguel.







O António começou a gozar... Não tardou a vez dele...





A pista termina num pântano bem difícil de ultrapassar e depois surge a povoação de Koro, povoado fronteiriço onde está a alfandega se entrega o passavant. Para encontrar o posto deciframos um autentico labirinto. Uns 10kms à frente a policia de fronteira. As instalações uns barracos; as linhas de fronteira umas pedras e uns bidões. Segue-se a fronteira do Burkina Faso. Toda esta ligação é feita num estradão largo de terra vermelha que dá para rolar bem. As instalações burkinabes têm melhor aspecto e só pagamos CFA 500 na policia e depois, em Thiou, mais CFA 5000 para a alfandega.
As demarches de entrada no Burkina são muito mais simplificadas. Alás é um pais mais limpo e organizado que os anteriores que visitamos. A Luso Team (o HDJ 80 e o Patrol) tinha decidido levar o Diego a Ouagadougou para apanhar o avião no dia 16, logo não ficaríamos em Ouahigoya. Comentamos com o pessoal a nossa intenção. Todos decidiram seguir para a capital, principalmente quando o António disse que o hotel tinha piscina e pizzas.
A pista de barro mais à frente fica demolidora com tantos buracos e regos.
Tremenda mestria a das cabras a comer em duas patas as folhas das acácias carregadas de picos enormes.
Está tempestade para os lados da capital. Esperamos que seja passageira.
Não é e está a agravar-se. Já não se vê a 30 mts. Depois abrandou mas não parou.
Ouagadougou recebe-nos molhada. É a cidade das bicicletas. São aos milhares. Tínhamos planos para um passeio depois do jantar mas a chuva e o vento não pararam e desanimamos. Apenas o Diego, em final de raid (partia de avião para Londres no dia seguinte) e  que não tinha jantado, decidiu ir ao centro. Lá convenceu um dos funcionários do hotel e foram na mota deste.
Estava focado em jantar no “De Niro” dada a indicação do Lonely Planet. Nada feito. O restaurante aparentava estar fechado havia tempo. Terminou num restaurante chinês e depois deu uma volta pelo centro onde descobriu um bar, o “Loft”, onde foi beber um copo com o seu "motorista". O Diego convidou-o a beber um cocktail como o dele mas este recusou o convite dado o custo da bebida, € 8,00. Tomara,  o seu salário mensal eram € 50.
Quem estava também no hotel era o Pepicant de quem nos tínhamos despedido em Sangha. Foi para a capital pois regressava a Espanha de avião na madrugada seguinte mas antes pretendia vender o seu Mitsubishi Pajero. Teve sorte. Naquela tarde conseguiu negócio por um preço bem razoável. Despedimo-nos mais uma vez dele e do filho desejando-lhes boa viagem. A nós desejaram-nos o mesmo.



15.08.2010 - A manhã foi também de despedidas. Do Diego, companheiro de viagem da Luso Team e que parte amanhã de avião para Inglaterra. Fizemos grande amizade e prometemos reencontrarmo-nos o mais rapidamente possível. Despedida também da famigerada Team Peugeot 405 que já não seguia para Bobo Dioulasso. O seu destino sempre foi Cotonou, capital do Benim. Com o azar do cárter já não quiseram desviar-se de rota e estavam indecisos se vendiam o Peugeot em Ouaga ou se seguiam nele até ao seu destino e o vendiam lá.
Despedidas feitas fomos dar um passeio pelo centro da cidade que embora limpa e arrumada não mostrou nada de atractivo. É uma capital pobre de um pobre pais africano. Mas é uma cidade briosa. O calor e a humidade que se faz sentir logo nos empapa. Vamo-nos habituando mas não somos destas bandas.
Hoje, ao final do dia, em Bobo Dioulasso, termina o Raid Burkina 2010 e é para lá que nos dirigimos. Pelo caminho desviamos com o Miguel para apanhar um geo – tesourinho. Passamos por uma coluna militar apeada chefiada á frente e atrás por duas mulheres. Burkina no seu melhor.
Procurar tesourinhos em geocaching é sempre obra. Fuça aqui, fuça ali. O tesourinho, ao que parece, foi colocado no terreno que pertencia a uma missão e o local evidenciava obras recentes. Lá foi o dito. No problem. Procura-se outro.
À saída da cidade vários troncos de árvore esculpidos. Uma boa ideia. Em vez de arrancar as arvores, que tal esculpi-las?
Saímos de rota para mais um tesourinho falhado mas desta subiram em vão um elevado promontório bem íngreme e distante de onde aparcamos os carros.
Em África não há reboques ou são raríssimos. Se tens uma avaria na estrada que não possas deslocar-te por meios próprios a solução é fazer o conserto na estrada. Se for necessário substituir peças à que tira-la no local e ir buscar outra para repor. Se for para consertar peças o processo é o mesmo. Desmontar, ir conserta-la e voltar para a repor. Para sinalizar as avarias em estrada usam arbustos. Cortam uns quantos e colocam-nos à frente e atrás do veiculo a uma distancia razoável.
Chegamos a Bobo Dioulasso.



O Toyota saiu de Ourém com 285.848kms e está com 292.770. Rolamos 6.922kms. Alojamo-nos no Hotel Auberge (CFA 36.000 a.p.a.), banho de piscina, de banheira e vamos jantar para festejar o final do Raid Burkina 2010. A mesa está posta na borda da piscina.
Dos participantes faltam, por ordem de despedida: o Pablo da BMW que teve um acidente antes de Bojador e foi repatriado para Espanha; Pepicant e filho que se despediu de nós em Sangha e voltamos a encontrar em Ouaga; os quatro magníficos do Peugeot 405 que ficaram em Ouga para seguir para Cotonou, capital do Benim e daí de avião para Espanha; o Diego que também ficou em Ouga para voltar para Inglaterra de avião. Convidados a filha de António e uma amiga que apareceu e se juntou ao grupo que passo a nomear: o António; o Roman “Glacius”; o Vicente e seus dois filhos; Tomás e a esposa e a Luso Team composta por mim, o Frederico, o Diogo e o Miguel. O António, desorganizador máximo propôs que todos fossem considerados vencedores do Raid. A “porra” seria para pagar o jantar e o que restasse seria dividida por carro. Toda a gente aceitou e coma-se muito e beba-se melhor.
Com alguns contratempos terminou bem o Raid Burkina 2010.
Para o ano “A Tribo” (La Tribu) vai até à Costa do Marfim.
Depois do jantar ainda fomos ver um show de precursão num clube perto hotel. Aliás, Bobo, é uma cidade de música que atuam por tudo quanto é lado ou bar.
Durante toda a noite ouvimos música proveniente de todas as coordenadas.



Amanhã começa o nosso regresso. O resto do grupo, que vai seguir directo, fica mais um dia em Bobo.
Nós partimos amanhã e não podemos deixar de ir por Dakar...

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